Wilhelm Ritter von Leeb: Comandante do Grupo de Exércitos Norte na Invasão da União Soviética
Wilhelm Ritter von Leeb: Comandante do Grupo de Exércitos Norte na Invasão da União Soviética
Wilhelm Ritter von Leeb foi uma figura proeminente no cenário militar alemão durante as duas Guerras Mundiais, mais notavelmente por seu papel como comandante do Grupo de Exércitos Norte durante a Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética em 1941. Sua carreira, marcada por uma mistura de lealdade ao regime e por vezes discordância com as políticas de Hitler, oferece um estudo de caso complexo sobre a ética militar em tempos de guerra e as pressões enfrentadas pelos generais alemães.
Primeiros Anos e Início da Carreira Militar
Nascido Wilhelm Leeb em Landsberg am Lech, Baviera, em 5 de setembro de 1876, ele ingressou no exército bávaro em 1895. Sua formação inicial e serviço em unidades de artilharia o prepararam para uma carreira distinta. Participou da repressão à Revolta dos Boxers na China (1900-1901), uma experiência que lhe proporcionou um contato precoce com operações militares em larga escala e contextos culturais diversos. Durante a Primeira Guerra Mundial, Leeb serviu com distinção, sendo condecorado com a Ordem Militar de Max Joseph em 1915, o que lhe conferiu o título de "Ritter von" (Cavaleiro de) e, consequentemente, o estatuto de nobreza pessoal. Essa condecoração o elevou a uma posição de prestígio dentro da hierarquia militar alemã.
Entre Guerras: Ascensão no Reichswehr
Após a Primeira Guerra Mundial, Leeb permaneceu no reduzido Reichswehr, o exército da República de Weimar. Sua reputação como um oficial competente e doutrinariamente sólido permitiu sua ascensão contínua. Ele se destacou como um teórico militar, especialmente na área de táticas defensivas e guerra de movimento. Em 1933, com a ascensão de Hitler ao poder, Leeb, como muitos outros oficiais conservadores, inicialmente via o novo regime com uma mistura de esperança e cautela. Ele foi promovido a General de Artilharia e desempenhou um papel crucial no rearmamento alemão, supervisionando o desenvolvimento e a modernização da artilharia.
Em 1938, Leeb foi promovido a Generalfeldmarschall (Marechal de Campo) e comandou as forças alemãs que ocuparam os Sudetos durante a Crise da Checoslováquia. Sua relutância em usar força excessiva durante essa operação, bem como sua oposição vocal a certas políticas nazistas, como a perseguição aos judeus, já indicava uma postura mais tradicional e menos ideológica em comparação com outros generais que abraçaram entusiasticamente o regime.
A Segunda Guerra Mundial: Operação Barbarossa
O papel mais significativo de Leeb na Segunda Guerra Mundial ocorreu durante a Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética em junho de 1941. Como comandante do Grupo de Exércitos Norte, sua missão principal era capturar Leningrado, a segunda maior cidade da União Soviética, e assegurar a região do Báltico.
O Grupo de Exércitos Norte, composto pelo 16º Exército, 18º Exército e o 4º Grupo Panzer, enfrentou desafios monumentais desde o início. A vastidão do território, a resistência soviética e a logística complexa testaram os limites das capacidades alemãs. Leeb, um estrategista cauteloso e adepto da doutrina militar tradicional, preferia avanços metódicos e bem planejados, priorizando a segurança das linhas de suprimento e a consolidação de ganhos territoriais.
No entanto, suas preferências táticas muitas vezes colidiam com as diretrizes de Hitler, que exigia avanços rápidos e implacáveis, independentemente das perdas ou das dificuldades logísticas. A campanha rumo a Leningrado revelou essas tensões. Embora as forças de Leeb tenham conseguido cercar a cidade, o avanço total para sua captura foi dificultado pela forte resistência soviética, pela falta de recursos adequados para um cerco prolongado e pela insistência de Hitler em realocar algumas das unidades de Leeb para o Grupo de Exércitos Centro.
Apesar dos sucessos iniciais, o Grupo de Exércitos Norte não conseguiu tomar Leningrado. O cerco da cidade, que duraria quase 900 dias, tornou-se um símbolo da tenacidade soviética e da brutalidade da guerra. Leeb, frustrado com as interferências de Hitler e com a impossibilidade de alcançar seus objetivos com os recursos disponíveis, pediu para ser dispensado do comando em janeiro de 1942. Sua saída marcou o fim de sua participação ativa na guerra.
Julgamento e Legado
Após a guerra, Wilhelm Ritter von Leeb foi julgado nos Julgamentos de Nuremberg, especificamente no Julgamento do Alto Comando (também conhecido como Julgamento OKW). Ele foi acusado de crimes de guerra, incluindo o tratamento brutal de prisioneiros de guerra e civis, e a emissão da "Ordem dos Comissários", que instruía o assassinato de comissários políticos soviéticos. Leeb foi considerado culpado de ter repassado a Ordem dos Comissários e foi sentenciado a três anos de prisão. No entanto, sua pena foi considerada cumprida devido ao tempo que já havia passado sob custódia.
O caso de Leeb nos Julgamentos de Nuremberg é complexo. Enquanto ele não foi acusado de planejar ou iniciar a guerra de agressão, sua responsabilidade residia na execução de ordens criminosas e na ausência de oposição mais veemente às atrocidades cometidas sob seu comando. Sua defesa frequentemente argumentou que ele estava meramente cumprindo ordens e que a resistência às diretrizes de Hitler era impossível.
Wilhelm Ritter von Leeb faleceu em 29 de abril de 1956, em Füssen, Alemanha Ocidental. Seu legado permanece debatido. Para alguns, ele representa um "general tradicional" que, embora servindo a um regime criminoso, tentou manter um certo grau de conduta militar profissional. Para outros, sua obediência às ordens, mesmo que relutante, o torna cúmplice das atrocidades do Terceiro Reich. A história de Leeb serve como um lembrete das complexidades morais e éticas enfrentadas pelos líderes militares em tempos de guerra e do peso da responsabilidade individual dentro de uma estrutura de comando.