Wilhelm Keitel: Chefe do Alto Comando das Forças Armadas (OKW)

 

Wilhelm Keitel: Chefe do Alto Comando das Forças Armadas (OKW)

Wilhelm Keitel foi uma figura central no regime nazista, notabilizado por sua posição como Chefe do Alto Comando das Forças Armadas (Oberkommando der Wehrmacht - OKW) durante a Segunda Guerra Mundial. Sua carreira é um exemplo complexo de lealdade inabalável a Adolf Hitler, que o levou a ser um dos principais arquitetos e executores das políticas militares e criminosas do Terceiro Reich.

Primeiros Anos e Carreira Militar

Nascido em 22 de setembro de 1882, em Helmscherode, Alemanha, Wilhelm Bodewin Johann Gustav Keitel era filho de um proprietário de terras. Sua família tinha uma longa tradição militar, e ele seguiu esse caminho ao ingressar no Exército Prussiano em 1901. Serviu na Primeira Guerra Mundial, onde demonstrou competência como oficial de artilharia, sendo ferido e condecorado.

Após a guerra, Keitel permaneceu no reduzido Reichswehr (exército da República de Weimar), ascendeu na hierarquia e foi transferido para o Ministério da Guerra em 1935. Sua capacidade administrativa e sua lealdade o colocaram em destaque. Em 1937, foi nomeado chefe do Departamento de Forças Armadas do Ministério da Guerra, um cargo crucial que o aproximou do círculo de poder nazista.

Ascensão ao OKW e Relação com Hitler

A grande virada na carreira de Keitel ocorreu em 1938, durante o Caso Blomberg-Fritsch. Neste episódio, o Ministro da Guerra, Werner von Blomberg, e o Comandante-em-Chefe do Exército, Werner von Fritsch, foram desacreditados e removidos de seus cargos. Hitler aproveitou a oportunidade para reestruturar o comando militar e, em 4 de fevereiro de 1938, dissolveu o Ministério da Guerra, criando o Oberkommando der Wehrmacht (OKW), com ele próprio como Comandante Supremo das Forças Armadas. Wilhelm Keitel, para surpresa de muitos, foi nomeado Chefe do OKW.

Essa nomeação foi estratégica para Hitler. Keitel era conhecido por sua dedicação e obediência, características que Hitler valorizava acima de tudo. Ao contrário de outros generais que poderiam ter opiniões independentes, Keitel demonstrava uma lealdade quase servil. Essa postura lhe rendeu o apelido pejorativo de "Lakaitel" (um trocadilho com "Lakai", que significa lacaio ou mordomo).

Como Chefe do OKW, Keitel era o principal conselheiro militar de Hitler e o canal através do qual as ordens do Führer eram transmitidas e implementadas pelas Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea). Ele não tinha autoridade de comando sobre as unidades de combate no campo, mas era responsável pela coordenação estratégica e pela tradução da vontade de Hitler em diretrizes militares.


O Papel de Keitel na Segunda Guerra Mundial

A influência de Keitel durante a Segunda Guerra Mundial foi imensa, embora muitas vezes nos bastidores. Ele foi um dos poucos indivíduos a ter acesso direto e constante a Hitler, participando de praticamente todas as conferências militares e sessões de planejamento. Sua assinatura estava em inúmeras ordens cruciais que moldaram o curso da guerra e que levaram a crimes de guerra.

Diretrizes e Ordens Criminosas

Keitel foi signatário de ordens que resultaram em atrocidades em massa, demonstrando sua cumplicidade nos crimes nazistas. Entre as mais notórias, destacam-se:

  • Comissários de Guerra (Kommissarbefehl): Esta ordem, emitida em junho de 1941 antes da invasão da União Soviética, instruía que os comissários políticos do Exército Vermelho fossem sumariamente executados. Keitel a assinou, apesar de algumas objeções de outros oficiais, o que evidencia sua disposição em cumprir as ordens de Hitler, por mais ilegais ou desumanas que fossem.

  • Comando Noturno e Nevoeiro (Nacht und Nebel Erlass): De dezembro de 1941, esta diretriz permitia o desaparecimento de prisioneiros políticos e membros da resistência nas áreas ocupadas, que seriam secretamente enviados para a Alemanha e executados ou mantidos em segredo, sem qualquer registro público. Keitel assinou esta ordem, que visava intimidar e desmoralizar a resistência.

  • Tratamento de prisioneiros de guerra soviéticos: Keitel assinou ordens que levaram a um tratamento desumano dos prisioneiros de guerra soviéticos, resultando na morte de milhões por fome, doenças e execuções.

  • Ordens de retaliação e atrocidades em áreas ocupadas: Ele endossou e assinou ordens que autorizavam represálias brutais contra populações civis e a destruição de vilas em resposta a ataques da resistência.

Apesar de sua posição de alto escalão e sua proximidade com Hitler, Keitel raramente questionava ou se opunha às decisões do Führer. Quando o fazia, suas objeções eram rapidamente descartadas, e ele prontamente cedia, preferindo a obediência à insubordinação. Essa característica o diferenciava de outros generais que, em momentos críticos, tentaram argumentar ou até mesmo planejar a remoção de Hitler.

O Julgamento de Nuremberg e a Condenação

Com a derrota da Alemanha em maio de 1945, Wilhelm Keitel foi preso. Ele foi uma das figuras de maior destaque a serem julgadas pelos Tribunais Militares Internacionais de Nuremberg.

Durante o julgamento, Keitel foi acusado de:

  • Conspiração para cometer crimes contra a paz: Por seu papel na preparação e condução de guerras de agressão.

  • Crimes contra a paz: Pela participação ativa na invasão de países vizinhos.

  • Crimes de guerra: Pela emissão e execução de ordens que violavam as leis da guerra, como o assassinato de prisioneiros e civis.

  • Crimes contra a humanidade: Por seu envolvimento em perseguições e extermínios de grupos raciais, étnicos e políticos.

A defesa de Keitel baseou-se principalmente na alegação de que ele era um soldado que simplesmente cumpria ordens superiores. Ele argumentou que, como chefe do OKW, sua função era meramente administrativa e que ele não tinha poder real para questionar as decisões de Hitler. No entanto, o Tribunal rejeitou essa defesa, enfatizando que sua alta posição e sua participação ativa na elaboração e execução de políticas criminosas o tornavam responsável.

Em 1º de outubro de 1946, Wilhelm Keitel foi considerado culpado de todas as acusações. Ele foi condenado à morte por enforcamento. Keitel pediu para ser executado por fuzilamento, uma forma de morte considerada mais honrosa para um militar, mas seu pedido foi negado. Ele foi enforcado em 16 de outubro de 1946, na prisão de Nuremberg.

Legado e Análise Histórica

A figura de Wilhelm Keitel é um símbolo da obediência cega e da cumplicidade da liderança militar alemã nos crimes do regime nazista. Sua carreira e seu destino servem como um alerta sobre os perigos da subordinação inquestionável à autoridade, especialmente quando essa autoridade se torna tirânica e criminosa.

Historiadores frequentemente o veem como um exemplo de como a lealdade excessiva e a falta de integridade moral podem levar indivíduos a participar de atrocidades. Sua disposição em assinar ordens ilegais e desumanas, mesmo que hesitante em alguns momentos, o tornou um participante ativo na máquina de guerra e extermínio nazista. O legado de Keitel continua sendo objeto de estudo e debate, especialmente no que diz respeito à responsabilidade individual em regimes totalitários e à questão da "obediência às ordens" em tempos de guerra.