Werner von Blomberg: Ascensão e Queda na Alemanha Nazista

Marechal-de-Campo Werner von Blomberg: Ascensão e Queda na Alemanha Nazista

Werner Eduard Fritz von Blomberg (1878-1946) foi uma figura central na transição das forças armadas alemãs da República de Weimar para a Wehrmacht da Alemanha Nazista. Como o primeiro marechal-de-campo nomeado por Adolf Hitler e Ministro da Guerra, Blomberg desempenhou um papel crucial na consolidação do poder de Hitler sobre os militares, antes de sua própria queda dramática em um escândalo fabricado.

Início da Vida e Carreira Militar (1878-1933)

Nascido em Stargard, Pomerânia (então Império Alemão) em 2 de setembro de 1878, Werner von Blomberg veio de uma família com tradição militar. Ele ingressou no exército alemão em 1897 e rapidamente demonstrou talento, frequentando a Academia de Guerra (Kriegsakademie) de 1904 a 1907. Após a formatura, ele se juntou ao Estado-Maior em 1908.

Durante a Primeira Guerra Mundial, Blomberg serviu com distinção na Frente Ocidental como oficial de estado-maior. Sua bravura e competência foram reconhecidas com a condecoração da Pour le Mérite, a mais alta honraria militar da Prússia na época. Ao final da guerra, ele havia alcançado o posto de Major.

No período entre guerras, Blomberg permaneceu no reduzido Reichswehr da República de Weimar. Ele ascendeu na hierarquia, tornando-se Chefe de Estado-Maior da Brigada de Döberitz em 1920 e, posteriormente, da Área do Exército de Stuttgart em 1921. Em 1925, foi nomeado chefe de treinamento do exército pelo General Hans von Seeckt, uma figura influente na reorganização pós-guerra do exército alemão. Em 1927, como Major-General, ele chefiou o Truppenamt, um disfarce para o proibido Estado-Maior Geral Alemão, conforme estipulado pelo Tratado de Versalhes. Essa experiência em posições estratégicas o preparou para papéis de maior destaque no futuro.

A Ascensão no Regime Nazista e o Marechalato (1933-1937)

A carreira de Blomberg deu uma guinada significativa com a ascensão de Adolf Hitler ao poder. Em janeiro de 1933, por recomendação do Presidente Paul von Hindenburg, Blomberg foi nomeado Ministro da Defesa no novo governo de Hitler. Essa nomeação foi estratégica para Hitler, que via em Blomberg um oficial leal e um entusiasta do rearmamento, o que alinhava com seus próprios planos de expansão militar.

Blomberg rapidamente se tornou um dos mais devotos seguidores de Hitler no alto escalão militar. Ele trabalhou diligentemente para expandir o tamanho e o poder do exército, contribuindo para a rápida reestruturação e crescimento das forças armadas alemãs. Em 1935, com a renomeação do Ministério da Defesa para Ministério da Guerra, Blomberg manteve sua posição, consolidando seu poder.

Em 20 de abril de 1936, no aniversário de Hitler, Werner von Blomberg foi promovido a Generalfeldmarschall (Marechal-de-Campo), tornando-se o primeiro oficial a receber essa patente sob o regime nazista. Isso demonstrava a confiança de Hitler nele e a importância de Blomberg na hierarquia militar. Ele também desempenhou um papel na supressão da Sturmabteilung (SA) durante a Noite das Facas Longas em 1934, elogiando a "decisão soldadesca" de Hitler.

Como Ministro da Guerra e Comandante em Chefe das Forças Armadas (Wehrmacht, que englobava o Exército, Força Aérea e Marinha), Blomberg foi fundamental na preparação da Alemanha para a guerra. Ele supervisionou a reintrodução do serviço militar obrigatório e o rápido crescimento da indústria de armamentos. Em junho de 1936, ele inclusive elaborou o "Caso Verde" (Fall Grün), um plano hipotético de campanha contra a Tchecoslováquia, indicando a crescente agressividade da política externa alemã.

O Escândalo e a Queda (1938)

A carreira de Werner von Blomberg terminou abruptamente e de forma desonrosa em janeiro de 1938, em um evento que ficaria conhecido como o Caso Blomberg-Fritsch.

Em 12 de janeiro de 1938, Blomberg, um viúvo, casou-se com sua secretária, Erna Gruhn (também conhecida como Margarethe Gruhn). A cerimônia foi testemunhada por Adolf Hitler e Hermann Göring, o que atesta a proximidade de Blomberg com a cúpula nazista. No entanto, logo após o casamento, surgiram informações comprometedoras sobre o passado de Erna Gruhn. Foi revelado que ela havia sido, no passado, uma modelo para fotos pornográficas e até mesmo tinha um histórico de prisões menores.

Hermann Göring e Heinrich Himmler, rivais de Blomberg que buscavam minar a independência da Wehrmacht e consolidar seu próprio poder, aproveitaram a situação. Eles apresentaram a Hitler as provas do passado da esposa de Blomberg. Hitler, furioso com a potencial vergonha que isso poderia trazer ao regime e ao seu exército, forçou Blomberg a renunciar.

Blomberg e sua jovem esposa foram exilados por um ano na ilha de Capri, na Itália, vivendo em relativa obscuridade. Sua queda abriu caminho para uma reorganização massiva do comando militar, com Hitler assumindo pessoalmente o comando supremo das Forças Armadas e o Ministério da Guerra sendo abolido. O incidente também permitiu que Hitler removesse outros generais que considerava "menos confiáveis", como Werner von Fritsch, acusado falsamente de homossexualidade no âmbito do mesmo escândalo.

Pós-Queda, Prisão e Morte (1938-1946)

Após seu exílio forçado, Werner von Blomberg viveu afastado dos holofuetes durante a Segunda Guerra Mundial. Ele não participou ativamente dos combates e sua influência militar desapareceu por completo.

Em 1945, com o fim da guerra, Blomberg foi capturado pelos Aliados. Ele foi chamado para depor como testemunha nos Julgamentos de Nuremberg, onde foram julgados os principais criminosos de guerra nazistas. Suas declarações forneceram insights valiosos sobre o funcionamento interno do regime de Hitler e a relação entre os militares e o Partido Nazista.

Werner von Blomberg faleceu em 13 de março de 1946, enquanto ainda estava detido em Nuremberg, aos 67 anos, devido a causas naturais (câncer de cólon). Sua vida, marcada por uma ascensão meteórica no regime nazista e uma queda igualmente espetacular, serve como um exemplo da complexa interação entre ambição pessoal, lealdade política e as intrigas do poder na Alemanha do Terceiro Reich.

Legado

O legado de Werner von Blomberg é controverso. Embora tenha sido um oficial competente e respeitado em seus primeiros anos de serviço, sua subserviência a Hitler e seu papel na consolidação do poder nazista sobre as forças armadas são aspectos criticados. Sua queda, por sua vez, representou um ponto de virada na história do Terceiro Reich, pois permitiu a Hitler um controle ainda maior sobre os militares, eliminando as últimas resistências da velha guarda e preparando o terreno para as agressões futuras.

A história de Blomberg ilustra como a lealdade pessoal e a busca por avanço na carreira puderam, em muitos casos, obscurecer o discernimento moral e político de indivíduos em meio ao regime totalitário de Hitler.