Walther von Brauchitsch (promovido em 1940)
Walther von Brauchitsch: Um Comandante na Encruzilhada da Guerra e da Política
Walther Heinrich Alfred Hermann von Brauchitsch (1881-1948) foi uma figura central no Alto Comando alemão durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial. Nascido em uma família da aristocracia militar prussiana, sua vida e carreira refletiram as transformações dramáticas da Alemanha, desde o Império até a ascensão e queda do Terceiro Reich. Embora reconhecido por seus pares como um general competente, sua trajetória foi marcada por uma complexa relação com Adolf Hitler, que acabou por minar sua autoridade e, finalmente, resultou em sua destituição.
Origens e Início da Carreira Militar (1881-1933)
Walther von Brauchitsch nasceu em Berlim em 4 de outubro de 1881. Filho de um oficial de cavalaria prussiano, seu destino parecia traçado desde cedo. Ele entrou para o exército em 1901 e serviu com distinção durante a Primeira Guerra Mundial, atuando em diversas funções de estado-maior na Frente Ocidental. Sua experiência incluiu participação em batalhas como a Ofensiva Meuse-Argonne e a Batalha de Verdun.
Após a Primeira Guerra Mundial e a dissolução do Império Alemão, Brauchitsch permaneceu no reduzido exército da República de Weimar, a Reichswehr. Nesse período, ele continuou a progredir em sua carreira, especializando-se em artilharia. Em 1928, já como coronel, foi transferido para o Departamento de Treinamento do Exército e, em 1931, alcançou o posto de general. Essas posições foram cruciais para o desenvolvimento de táticas e doutrinas militares que seriam empregadas na futura Wehrmacht, apesar das restrições impostas pelo Tratado de Versalhes.
Ascensão sob o Regime Nazista (1933-1938)
Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933, a Alemanha iniciou um programa de rearmamento massivo, desafiando as imposições do Tratado de Versalhes. Brauchitsch, embora não fosse um ardente defensor do Nazismo, adaptou-se à nova realidade política. Em 1933, foi nomeado comandante do Distrito Militar (Wehrkreis I) da Prússia Oriental, uma posição estratégica que o colocou no centro dos planos de expansão militar alemã. Ele foi promovido a tenente-general em 1936 e, em 1937, tornou-se comandante do Grupo de Comando 4.
Sua relação com Hitler tornou-se mais complexa em 1938, quando Brauchitsch, envolvido em um caso extraconjugal e necessitando de fundos para seu divórcio, recebeu um empréstimo substancial de 80.000 Reichsmarks diretamente de Hitler. Isso o colocou em uma posição de dependência financeira em relação ao Führer, o que muitos historiadores apontam como um fator que enfraqueceu sua capacidade de se opor a Hitler. Em 4 de fevereiro de 1938, após a crise Blomberg-Fritsch, Brauchitsch foi nomeado Comandante em Chefe do Exército Alemão (Heer), um cargo de imensa responsabilidade.
Papel na Segunda Guerra Mundial e a Doutrina "Blitzkrieg" (1939-1941)
Como Comandante em Chefe do Exército, Brauchitsch desempenhou um papel fundamental nas campanhas iniciais da Segunda Guerra Mundial, que demonstraram a eficácia das novas táticas alemãs, posteriormente conhecidas como "Blitzkrieg" (guerra relâmpago).
Campanha da Polônia (1939): Brauchitsch supervisionou a maior parte dos planos para a invasão da Polônia. Embora a "Blitzkrieg" não fosse uma doutrina oficial ou uma teoria pré-estabelecida, a campanha polonesa é frequentemente citada como o primeiro exemplo de sua aplicação. As forças alemãs, sob seu comando, demonstraram uma velocidade e coordenação impressionantes, superando rapidamente as defesas polonesas. Durante este período, Brauchitsch também expressou apoio a medidas duras contra a população polonesa, justificando-as como necessárias para garantir o "Lebensraum" (espaço vital) alemão.
Batalha da França (1940): Seu sucesso na Campanha da Polônia foi seguido pela vitória esmagadora na Batalha da França em 1940. Sob sua liderança, as forças alemãs contornaram a Linha Maginot, avançaram rapidamente e forçaram a rendição francesa em um tempo surpreendentemente curto. Por seu desempenho nesta campanha, Brauchitsch foi um dos 12 generais promovidos a Generalfeldmarschall (Marechal de Campo) por Hitler em 19 de julho de 1940.
Invasão da Iugoslávia e Grécia (1941): Brauchitsch também supervisionou as invasões alemãs da Iugoslávia e da Grécia em 1941, campanhas que consolidaram ainda mais o controle do Eixo sobre os Bálcãs.
Operação Barbarossa (1941): A maior e mais ambiciosa operação sob seu comando foi a Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética em junho de 1941. Brauchitsch, juntamente com outros generais, estava envolvido no planejamento estratégico, embora muitas de suas sugestões e preocupações sobre a logística e os objetivos da campanha fossem ignoradas por Hitler, que cada vez mais assumia o controle direto das operações militares. A campanha inicial obteve sucessos espetaculares, com avanços rápidos e milhões de prisioneiros de guerra soviéticos. No entanto, o inverno russo, a resistência soviética e os problemas logísticos começaram a cobrar seu preço.
A Queda em Desgraça e o Fim da Carreira (1941-1945)
Apesar dos sucessos iniciais, a Operação Barbarossa não atingiu seus objetivos principais de forma decisiva, especialmente a captura de Moscou antes do inverno. A inabilidade de tomar a capital soviética levou a crescentes tensões entre Brauchitsch e Hitler. O Marechal de Campo sofria de problemas de saúde, incluindo uma doença cardíaca, e a pressão e a frustração com as intervenções constantes de Hitler na estratégia militar agravaram sua condição.
Em novembro de 1941, Brauchitsch sofreu um ataque cardíaco. Hitler culpou-o pelo fracasso em tomar Moscou e, em 19 de dezembro de 1941, o dispensou sumariamente do comando, assumindo ele próprio a chefia do Exército. Brauchitsch passou o resto da guerra em uma aposentadoria forçada, isolado e em declínio de saúde. Ele fez poucos comentários públicos após sua demissão, embora tenha condenado a Conspiração de 20 de julho contra Hitler, o que, segundo relatos, ele alegou ter sido forçado a fazer para proteger um parente.
Pós-Guerra, Julgamento e Morte (1945-1948)
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Walther von Brauchitsch foi detido pelos Aliados e enfrentou acusações de crimes de guerra, incluindo conspiração e crimes contra a humanidade. Ele deveria ser um dos réus nos Julgamentos de Nuremberg, onde foi interrogado em agosto de 1946. No entanto, sua saúde deteriorada impediu que ele fosse julgado.
Walther von Brauchitsch morreu em 18 de outubro de 1948, aos 67 anos, devido a uma pneumonia brônquica em um hospital militar britânico em Hamburgo, antes que seu julgamento pudesse ser concluído.
Legado
O legado de Walther von Brauchitsch é complexo e ainda é objeto de debate entre os historiadores. Ele foi um oficial profissional e competente, um dos principais arquitetos das primeiras e espetaculares vitórias da Wehrmacht. No entanto, sua personalidade, descrita por alguns como "fraca" ou "sem espinha dorsal", e sua dependência financeira de Hitler, o tornaram suscetível à influência do Führer.
Brauchitsch encarnou o dilema de muitos oficiais da velha guarda prussiana que, embora não necessariamente ideologicamente alinhados com o Nazismo, acabaram por se comprometer com o regime devido a uma combinação de dever, ambição e, em seu caso, dependência pessoal. Sua carreira serve como um exemplo de como a linha entre a profissionalismo militar e a cumplicidade com um regime tirânico pode ser tênue, especialmente sob a pressão de um líder carismático e implacável como Adolf Hitler.