Walther Model: O Mestre da Defesa da Wehrmacht

 


Walther Model: O Marechal da Defesa Implacável da Wehrmacht

No cenário brutal e devastador da Segunda Guerra Mundial, emergiu uma figura lendária entre as fileiras da Wehrmacht: Walther Model. Nascido em Genthin, Alemanha, em 24 de janeiro de 1891, e encontrando seu fim perto de Duisburg em 21 de abril de 1945, Model foi um dos mais notáveis e implacáveis comandantes de campo alemães. Sua maestria em táticas defensivas e sua tenacidade inabalável valeram-lhe o epíteto de "Leão Defensivo de Hitler", especialmente na Frente Oriental, onde sua capacidade de estabilizar frentes em colapso e infligir pesadas baixas aos adversários, mesmo em desvantagem esmagadora, tornou-se sua marca registrada.

Dos Foscos da Primeira Guerra à Ascensão na Wehrmacht

Model iniciou sua jornada militar no Exército Imperial Alemão em 1909. A Primeira Guerra Mundial serviu como seu batismo de fogo, onde, apesar da carnificina, destacou-se por bravura e acumulou experiência em diversas posições, incluindo oficial de estado-maior. Sua capacidade de adaptação e a vivência nas trincheiras já prenunciavam o comandante que viria a ser. No período entre guerras, sua ascensão na Reichswehr foi contínua, aprimorando suas habilidades táticas e sua compreensão da guerra moderna. Conhecido por sua ética de trabalho incansável e foco, Model esperava o mesmo de seus subordinados. Não era um estrategista no calibre de Manstein, mas sua força residia na aplicação prática e na execução implacável de táticas no campo de batalha.

O "Bombeiro da Frente Oriental": A Lenda de Rzhev

A eclosão da Segunda Guerra Mundial rapidamente confirmou o valor de Walther Model. Comandou uma divisão de infantaria na invasão da Polônia em 1939 e na Batalha da França em 1940. No entanto, foi na Frente Oriental que Model se tornou uma figura proeminente.

Durante a Operação Barbarossa em 1941, ele comandou o III Corpo de Exército e, posteriormente, o 9º Exército. Sua energia inesgotável, a disposição para estar na linha de frente com suas tropas e sua abordagem prática e muitas vezes brutal para resolver problemas rapidamente lhe renderam a confiança de Hitler.

Suas habilidades defensivas foram postas à prova em larga escala durante a Batalha de Rzhev, uma série de confrontos sangrentos e prolongados perto de Moscou, entre 1941 e 1943. No comando do 9º Exército, Model conseguiu frustrar várias ofensivas soviéticas maciças, empregando uma defesa elástica com múltiplas linhas defensivas, contra-ataques localizados e priorizando a retenção de posições-chave. A tenacidade de Model em Rzhev, apesar das pesadas baixas, evitou um colapso catastrófico da frente alemã, o que lhe valeu a promoção a Marechal de Campo em março de 1944.

Sua maestria em táticas defensivas baseava-se em pilares claros:

  • Defesa em profundidade: Em vez de uma única linha rígida, Model criava múltiplas barreiras defensivas para desgastar o inimigo.

  • Contra-ataques rápidos e decisivos: Não era apenas aguentar o ataque, mas usar reservas blindadas e de infantaria para lançar contra-ataques vigorosos.

  • Gestão eficiente de recursos: Mesmo com a escassez crescente, Model era mestre em otimizar o uso de artilharia, tanques e infantaria.

  • Liderança na linha de frente: Sua presença constante no campo de batalha, tomando decisões rápidas e diretas, inspirava suas tropas.

Essa capacidade de intervir em setores críticos e evitar colapsos lhe rendeu o apelido de "bombeiro" ou "Leão Defensivo de Hitler".

O Fim de um Guerreiro: Das Ardenas ao Bolsão de Ruhr

Model continuou a ser uma figura central nas operações alemãs na Frente Oriental, assumindo o comando de vários grupos de exércitos. Sua improvisação e tenacidade foram postas à prova repetidamente durante as grandes ofensivas soviéticas de 1944, como a Operação Bagration, que devastou o Grupo de Exércitos Centro. Apesar da derrota maciça, Model conseguiu retirar partes significativas de suas forças e estabilizar uma nova linha de frente.

Com a guerra se voltando decisivamente contra a Alemanha, Model foi transferido para a Frente Ocidental no final de 1944, assumindo o comando do Grupo de Exércitos B. Ele teve um papel proeminente na Batalha das Ardenas em dezembro de 1944, onde suas forças tentaram o último grande ataque alemão no oeste. Embora a ofensiva tenha fracassado, Model organizou uma retirada relativamente ordenada, evitando um cerco completo.

À medida que os Aliados avançavam sobre a Alemanha na primavera de 1945, Model e suas forças ficaram encurralados no Bolsão de Ruhr. Com suas tropas exaustas, sem suprimentos e enfrentando uma derrota inevitável, Model recusou-se a render-se. Em 21 de abril de 1945, cometeu suicídio em uma floresta perto de Ratingen, Alemanha, declarando que "um marechal de campo não capitula".

Legado: Entre a Admiracão Militar e a Sombra do Regime

O legado de Walther Model é, como o de muitos comandantes da Wehrmacht, complexo e profundamente controverso. Do ponto de vista puramente militar, Model é amplamente considerado um dos maiores mestres da defesa e um dos comandantes mais eficazes da Segunda Guerra Mundial. Sua capacidade de reverter situações desesperadoras e de infligir pesadas baixas aos seus adversários, mesmo com recursos limitados, é inegável. Era um comandante prático, implacável e admirado por suas tropas por sua liderança na linha de frente.

No entanto, Model também era um devoto de Hitler e um defensor fanático do regime nazista. Sua lealdade inquestionável ao Führer e sua disposição em executar ordens, mesmo as mais brutais, levantaram questões sobre seu envolvimento e sua responsabilidade em crimes de guerra. Embora não haja evidências diretas de Model ter ordenado atrocidades, sua proximidade com a liderança nazista e o fato de ter operado em um contexto onde tais crimes eram comuns e tolerados, levantam sérias questões morais. A figura de Walther Model permanece um lembrete das complexidades éticas enfrentadas por aqueles que serviram em regimes criminosos, uma dualidade que ecoa na história militar até os dias de hoje.


Por Albino Monteiro