Walter von Reichenau (promovido em 1940)

 

Walter von Reichenau: Um Estudo Abrangente sobre um Comandante Controversso da Wehrmacht

Introdução

Walter von Reichenau (1884-1942) foi um dos generais mais proeminentes e controversos da Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial. Sua carreira militar, marcada por uma rápida ascensão e por uma profunda lealdade ao regime nazista, o colocou no centro de algumas das operações mais brutais do conflito. Este estudo busca examinar a trajetória de Reichenau, desde suas origens militares até sua morte, analisando suas contribuições táticas, sua ideologia e o impacto de suas ordens e ações no decorrer da guerra. A complexidade de sua figura reside na intersecção entre a eficiência militar e a adesão incondicional a uma ideologia genocida, tornando-o um símbolo das tensões morais e éticas que permearam as forças armadas alemãs.

Origens e Carreira Precoce

Nascido em 8 de outubro de 1884, em Karlsruhe, Baden, Walter von Reichenau provinha de uma família com forte tradição militar. Seu pai, Ernst von Reichenau, era um tenente-general prussiano, o que pavimentou o caminho para sua própria carreira no exército. Ingressou no Exército Imperial Alemão em 1903, servindo no 1º Regimento de Artilharia de Campo de Guardas. Durante a Primeira Guerra Mundial, atuou em diversas frentes, ganhando experiência em combate e demonstrando aptidão para o comando. Sua participação no conflito lhe rendeu a Cruz de Ferro de 1ª e 2ª Classe.

Após a Primeira Guerra Mundial e o Tratado de Versalhes, que impôs severas restrições ao tamanho e poder do exército alemão, Reichenau permaneceu no Reichswehr, o exército reduzido da República de Weimar. Nesse período, ele se destacou como um oficial talentoso e reformista, interessado em inovações táticas e na modernização das forças armadas. Foi durante esse tempo que Reichenau começou a cultivar laços com figuras emergentes do movimento nazista, notadamente Adolf Hitler e a cúpula do NSDAP. Ele via no Partido Nazista a força capaz de restaurar o poderio militar alemão e reverter as humilhações impostas pelo pós-guerra.

Ascensão no Regime Nazista e a Preparação para a Guerra

A ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933 marcou um ponto de viragem na carreira de Reichenau. Sua simpatia pelo nazismo e suas conexões pessoais com Hitler o diferenciaram de muitos outros generais conservadores que viam o partido com desconfiança. Reichenau foi um dos primeiros oficiais de alto escalão a jurar lealdade a Hitler pessoalmente, e não à constituição. Isso lhe rendeu a confiança do Führer e uma rápida progressão na hierarquia militar.

Em 1935, Reichenau foi nomeado comandante do VII Corpo de Exército em Munique. No ano seguinte, em 1936, foi promovido a General da Artilharia e assumiu o comando do Grupo de Comando 4. Sua influência foi crucial na remoção de oficiais considerados "antipáticos" ao regime, facilitando a nazificação das forças armadas. Reichenau desempenhou um papel significativo na formação da Wehrmacht, defendendo a Blitzkrieg e a utilização de forças mecanizadas, e foi um dos arquitetos das novas doutrinas militares alemãs que seriam empregadas na Segunda Guerra Mundial.

Comando na Segunda Guerra Mundial: Campanha Polonesa e Batalha da França

Com o início da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939, Reichenau estava no comando do 10º Exército durante a invasão da Polônia. Seu exército foi fundamental na rápida derrota das forças polonesas, demonstrando a eficácia da tática da Blitzkrieg. A campanha polonesa também revelou a brutalidade inerente à guerra nazista, com atrocidades sendo cometidas contra a população civil e prisioneiros de guerra, muitas vezes com a complacência ou até mesmo com a ordem dos comandantes.

Em 1940, Reichenau foi promovido a Generalfeldmarschall (Marechal de Campo) por sua performance na Polônia. Em seguida, ele liderou o 6º Exército durante a Batalha da França. Mais uma vez, suas forças desempenharam um papel crucial na rápida derrota das forças aliadas, capturando Bruxelas e avançando profundamente no território francês. Sua liderança agressiva e sua capacidade de executar as táticas de guerra relâmpago foram amplamente reconhecidas, consolidando sua reputação como um comandante militar talentoso.

Frente Oriental: Barbarossa e as Ordens Criminosas

O ponto mais sombrio da carreira de Reichenau, e um dos mais condenáveis, ocorreu durante a Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética, em junho de 1941. Reichenau continuou no comando do 6º Exército, que operou como parte do Grupo de Exércitos Sul. A campanha no Leste foi caracterizada por uma ideologia de aniquilação, com o objetivo não apenas de derrotar o Exército Vermelho, mas também de exterminar o comunismo e, crucialmente, os judeus na União Soviética.

Foi na Frente Oriental que Reichenau emitiu a infame "Ordem de Severidade" (Reichenau-Befehl) em 10 de outubro de 1941. Esta ordem, que se tornou um dos documentos mais explícitos da cumplicidade da Wehrmacht nos crimes de guerra nazistas, instruía seus soldados a combater "selvagemente" e a erradicar a "ideologia judaico-bolchevique". Ela legitimava o assassinato de judeus, comissários políticos (comissários do povo), partisans e qualquer um que fosse considerado uma ameaça ao "Reich". A ordem de Reichenau foi amplamente copiada e distribuída para outras unidades da Wehrmacht e da SS, servindo como uma licença para atrocidades em massa.

Sob o comando de Reichenau, o 6º Exército participou ativamente da perseguição e assassinato de judeus e outras populações civis. Embora as unidades do Einsatzgruppen (esquadrões da morte) fossem os principais executores do Holocausto no Leste, a Wehrmacht forneceu apoio logístico, participou de operações de "limpeza" e, em muitos casos, cometeu seus próprios massacres. A "Ordem de Severidade" de Reichenau removeu qualquer barreira moral ou legal para tais ações, transformando o 6º Exército em um instrumento da política de extermínio nazista.

Morte e Legado

Em 17 de janeiro de 1942, Walter von Reichenau sofreu um derrame cerebral na frente oriental. Ele estava sendo transportado de avião de volta à Alemanha para tratamento, mas o avião caiu durante uma parada para reabastecimento em Lemberg (atual Lviv, Ucrânia). Ele morreu a caminho, ou logo após o acidente, em 20 de janeiro de 1942. Sua morte foi apresentada pela propaganda nazista como uma baixa heroica, um sacrifício pela nação.

O legado de Walter von Reichenau é indelével e profundamente controverso. Ele é lembrado tanto como um comandante militar capaz, responsável por vitórias significativas nos primeiros anos da guerra, quanto como um ardente ideólogo nazista e um criminoso de guerra que desempenhou um papel ativo na implementação das políticas genocidas de Hitler. Sua "Ordem de Severidade" permanece como um testemunho perturbador da extensão da cumplicidade da Wehrmacht nos crimes do Holocausto.

A figura de Reichenau personifica o dilema moral enfrentado por muitos membros da Wehrmacht: a escolha entre o dever militar e a resistência a um regime criminoso. Sua lealdade inquestionável a Hitler e sua adesão fanática à ideologia nazista o levaram a cruzar a linha da moralidade e da decência humana, manchando irremediavelmente sua reputação e contribuindo para a infâmia dos crimes cometidos em nome do Terceiro Reich.

Conclusão

Walter von Reichenau representa um caso exemplar da intrincada relação entre talento militar e depravação moral na Alemanha Nazista. Sua ascensão meteórica na Wehrmacht foi impulsionada tanto por suas habilidades táticas quanto por sua devoção ao regime. Contudo, é na Frente Oriental, com a emissão da "Ordem de Severidade" e a subsequente participação de suas tropas em atrocidades, que seu legado se torna mais sombrio e revelador.

A análise da vida e carreira de Reichenau é crucial para entender como a Wehrmacht, uma instituição que se via como apolítica e profissional, se tornou um pilar fundamental da máquina de guerra e extermínio nazista. Reichenau não foi uma exceção, mas sim um reflexo de uma cultura militar que, influenciada por uma ideologia radical, permitiu e participou de crimes de uma escala sem precedentes. Sua história serve como um lembrete vívido das consequências devastadoras da subordinação da ética e da humanidade à lealdade cega e à ideologia genocida.