Vitélio (69) O Imperador que Comeu o Próprio Destino

 

Vitélio: O Imperador que Comeu o Próprio Destino

Roma, ano 69 d.C. — o chamado “Ano dos Quatro Imperadores”. Um turbilhão de ambição, traição e sangue. No centro desse redemoinho, um nome que ainda hoje provoca espanto e escárnio entre os estudiosos da história imperial: Aulo Vitélio Germânico. Um homem que poderia ter sido o pacificador de Roma, mas que terminou como símbolo de decadência e desgoverno.

Um Imperador Improvável

Vitélio não era um aristocrata tradicional. Filho de um político de reputação duvidosa e de uma matrona rica, cresceu nos bastidores do poder, convivendo com figuras como Calígula e Tibério. Sua ascensão foi marcada mais por conveniências políticas do que por méritos próprios. Em janeiro de 69, foi aclamado Imperador pelas legiões da Germânia, após a morte de Galba. Mas Roma já havia escolhido Otão. O confronto era inevitável.

A Guerra que Não Acabava

A vitória de Vitélio sobre Otão na Batalha de Bedríaco parecia encerrar a guerra civil. Otão, em um gesto de honra, tirou a própria vida para evitar mais derramamento de sangue. Mas a paz foi breve. Vitélio chegou a Roma como salvador, mas logo revelou-se um governante fraco, dominado por seus generais e por seus próprios vícios.

Luxo, Gula e Desgoverno

Vitélio era um homem de apetite insaciável — literal e metaforicamente. Orgias milionárias, banquetes intermináveis e permissividade com os saques das tropas tornaram-se sua marca registrada. Para sustentar seus excessos, saqueou os ricos e permitiu que seus soldados pilhassem os pobres. Roma mergulhou no caos. O povo, o Senado e até o exército começaram a se voltar contra ele.

O Oriente se Levanta

Enquanto Roma ardia em desordem, no Oriente, um novo nome ganhava força: Tito Flávio Vespasiano. Veterano das campanhas na Judeia, Vespasiano foi proclamado Imperador pelas legiões do Egito e da Síria. A rebelião se espalhou como fogo em palha seca. As legiões da Gália e Germânia, desprezadas por Vitélio, aderiram à causa. A guerra civil recomeçava.

O Fim de um Homem

A Segunda Batalha de Bedríaco selou o destino de Vitélio. Derrotado, traído por seus próprios generais, tentou fugir e esconder-se. Foi encontrado em uma casa modesta, arrastado pelas ruas de Roma, assassinado e decapitado. Sua cabeça foi exibida em uma lança — um aviso brutal a todos os que ousassem brincar com o poder imperial.

A Aurora dos Flávios

Com a morte de Vitélio, o Senado proclamou Vespasiano como novo Imperador. A guerra civil finalmente chegava ao fim. Roma, exausta e saqueada, respirava aliviada. Nascia a dinastia dos Flávios, marcada por estabilidade e reconstrução.

Epílogo

A história de Aulo Vitélio é um lembrete cruel de que o poder, sem virtude, é um banquete envenenado. Ele chegou ao trono com o apoio das legiões, mas perdeu tudo por não saber governar a si mesmo. Em um império que exigia ordem, Vitélio ofereceu desordem. Em um tempo que clamava por liderança, ele entregou indulgência.


Por Albino Monteiro