Tito (79–81 d.C.) O Imperador Entre o Gládio e a Graça
Tito: O Imperador Entre o Gládio e a Graça
Em pleno verão do ano 70 d.C., os céus sobre Jerusalém ardiam em chamas. O Templo, coração espiritual do povo judeu, sucumbia ao cerco implacável das legiões romanas. À frente da destruição, um jovem general de 30 anos, herdeiro de um novo império e de um velho mundo: Tito Flávio Vespasiano. Para Roma, ele seria celebrado como herói. Para os judeus, lembrado como o carrasco do Templo.
Mas quem foi, afinal, esse homem que transitou entre a brutalidade da guerra e a benevolência do poder?
O Conquistador de Jerusalém
Filho do imperador Vespasiano, Tito assumiu o comando das forças romanas na Judeia quando seu pai partiu para Roma. Com mais de 50 mil homens sob seu comando, Tito cercou Jerusalém com precisão cirúrgica. A cidade, fortificada e dividida por facções internas, resistiu com fervor. Tito, por sua vez, combinou força bruta com astúcia: usou máquinas de guerra, bloqueios de suprimentos e até cadáveres como armas psicológicas.
Quando finalmente rompeu as muralhas, o massacre foi total. Estima-se que mais de meio milhão de judeus tenham morrido. O Templo foi incendiado — contra a vontade de Tito, segundo algumas fontes — e a cidade sagrada foi reduzida a escombros. O episódio marcaria para sempre a memória judaica, lembrado até hoje no Tisha b’Av.
O Príncipe Herdeiro
Tito não era apenas um guerreiro. Desde jovem, acompanhou o pai em campanhas militares e cargos administrativos. Foi tribuno na Germânia e Britânia, questor, e mais tarde, cônsul e prefeito do pretório. Sua ascensão ao trono em 79 d.C., após a morte de Vespasiano, foi pacífica — um feito raro na política romana.
Mas o destino não lhe daria trégua.
Tragédias de um Reinado Breve
Dois meses após sua coroação, o Vesúvio entrou em erupção, sepultando Pompeia e Herculano sob cinzas e lava. Tito agiu com rapidez: visitou a região, organizou socorro e usou fundos públicos para ajudar os sobreviventes. No ano seguinte, Roma foi atingida por um incêndio devastador e uma epidemia de peste. Mais uma vez, o imperador mostrou-se generoso e resoluto, vendendo até relíquias dos templos para financiar a reconstrução.
O Legado de Pedra
Apesar das calamidades, Tito deixou uma marca duradoura: o Coliseu. Inaugurado em 81 d.C., o Anfiteatro Flávio foi palco de espetáculos grandiosos e símbolo do poder imperial. Ao lado, as Termas de Tito ofereciam lazer e higiene ao povo romano. Era a face pública de um imperador que buscava equilíbrio entre glória e generosidade.
A Morte e o Mistério
Tito morreu em setembro de 81, aos 42 anos, após uma breve doença. Para alguns, foi castigo divino pelo incêndio do Templo. Para outros, envenenamento tramado por seu irmão Domiciano, que o sucederia. Sem herdeiros homens, Tito deixou apenas uma filha, Júlia Flávia, e uma história marcada por contrastes.
Entre o Amor e o Dever
Tito teve muitos amores, mas nenhum tão controverso quanto Berenice, princesa judia com quem viveu um romance digno de tragédia grega. Pressionado pelo pai e pela opinião pública romana, Tito renunciou à união. O amor sucumbiu à razão de Estado.
Tito, o Ambíguo
Tito foi um imperador de paradoxos: cruel na guerra, generoso na paz; amado pelo povo, temido pelos inimigos; herói para Roma, vilão para Jerusalém. Seu reinado breve, mas intenso, ecoa até hoje como um lembrete de que o poder, como o próprio Coliseu, é feito de pedra e sombra.