Tácito (275 – 276)

 


Tácito: O Curto Reinado do Imperador Senador (275-276 d.C.)

Após a morte abrupta do aclamado Imperador Aureliano em 275 d.C., o Império Romano mais uma vez se viu em um vácuo de poder. Aureliano, o "Restaurador do Mundo", havia reunificado o império e restaurado a confiança, mas sua morte repentina levantou a questão crucial de quem poderia continuar seu trabalho. Foi nesse cenário que o Senado Romano, em um raro e breve momento de proeminência, escolheu um de seus membros mais velhos e respeitados para o trono: Marco Cláudio Tácito.

A Escolha Inesperada do Senado

A morte de Aureliano, assassinado por uma conspiração, deixou as legiões em luto e hesitação. Incomumente, em vez de proclamar imediatamente um novo imperador militar, os soldados, talvez por remorso ou respeito pela memória de Aureliano, pareceram deferir ao Senado. Esse gesto é notável, pois o poder do Senado havia sido progressivamente diminuído ao longo dos séculos, especialmente durante a Crise do Terceiro Século, quando os imperadores eram frequentemente proclamados pelas tropas.

Após um interregno de várias semanas, durante o qual o Senado debateu e hesitou, a escolha recaiu sobre Tácito. Ele era um senador idoso, de cerca de 75 anos, com uma reputação de integridade, riqueza e uma longa carreira política. Acredita-se que Tácito inicialmente relutou em aceitar a coroa, ciente dos perigos e da imensa responsabilidade de governar um império ainda frágil. No entanto, a pressão do Senado e o desejo de restaurar alguma forma de legitimidade civil ao trono o convenceram.

Um Breve Reinado de Luta e Reorganização

O reinado de Tácito, que durou aproximadamente seis a nove meses (as fontes divergem), foi marcado por esforços para estabilizar o império e continuar a obra de Aureliano. Sua primeira e mais urgente tarefa foi lidar com as invasões de tribos germânicas, particularmente os Hérulos, que haviam aproveitado a instabilidade após a morte de Aureliano para pilhar as províncias orientais da Ásia Menor.

Tácito, apesar de sua idade avançada, liderou pessoalmente as tropas para a Ásia Menor, demonstrando um vigor surpreendente. Ele conseguiu repelir os invasores, restaurando a segurança na região. Esse feito militar, embora breve, mostrou sua determinação e a capacidade de adaptação do exército romano mesmo sob um imperador de origem senatorial.

Durante seu curto período no poder, Tácito também se esforçou para restaurar algumas das prerrogativas do Senado, prometendo-lhes mais influência nos assuntos imperiais. Ele também tentou controlar as despesas e combater a corrupção, seguindo os passos de Aureliano.

Morte e o Fim da Esperança Senatorial

A morte de Tácito, em meados de 276 d.C., é novamente envolta em incertezas. As fontes sugerem que ele pode ter morrido de causas naturais, devido à sua idade avançada e ao estresse das campanhas militares. Outras teorias apontam para um assassinato, possivelmente por militares insatisfeitos ou por aqueles que se opunham às suas reformas ou à sua tentativa de restaurar a autoridade senatorial.

Independentemente da causa, a morte de Tácito encerrou o breve experimento de um imperador eleito pelo Senado. Seu irmão, Floriano, tentou sucedê-lo, mas logo foi derrubado por Probo, outro general militar forte, que viria a continuar a obra de Aureliano na restauração do império.

O reinado de Tácito, embora efêmero, é significativo por várias razões. Ele representa o último grande esforço do Senado Romano para reverter o declínio de seu poder e afirmar sua autoridade na escolha de um imperador. Mostra também que, mesmo em tempos de crise, a tradição e a busca por uma legitimidade "civil" ainda eram valorizadas. No entanto, a realidade do poder militar e a necessidade de um líder forte e experiente em batalha para enfrentar as constantes ameaças do império prevaleceram, e o destino de Roma continuaria nas mãos de seus generais.