Otão (69) O Imperador Relâmpago de Roma

 

Otão: O Imperador Relâmpago de Roma

Em tempos de caos, surgem figuras improváveis. Marco Sálvio Otão, um aristocrata mimado e exilado por amor, tornou-se, por um breve instante, o homem mais poderoso do mundo. A sua ascensão meteórica e queda trágica em apenas três meses e cinco dias marcaram um dos capítulos mais intensos do turbulento “Ano dos Quatro Imperadores”.

Da Corte ao Exílio: A Juventude de um Sobrevivente

Nascido em 32 d.C., em Ferentino, Otão cresceu entre os mármores do palácio imperial. Filho de uma família influente, foi amigo íntimo de Nero — uma amizade que lhe traria tanto prestígio quanto desgraça. Quando a sua esposa, Popeia Sabina, chamou a atenção do imperador, Otão foi forçado a entregá-la. Em vez de o executar, Nero exilou-o para a Lusitânia, nomeando-o governador. Um castigo? Talvez. Mas também uma oportunidade.

Dez Anos na Lusitânia: O Príncipe Aprende a Governar

Durante uma década, Otão governou a província com surpreendente competência. Chegou a Emérita Augusta com apenas 26 anos, sem carisma nem grande experiência. Ainda assim, evitou conflitos militares e manteve a ordem. A sua maior dificuldade? A gestão económica — um desafio para alguém habituado aos luxos da corte.

Oportunista ou Visionário?

Quando Galba se revoltou contra Nero, Otão foi o primeiro a apoiá-lo. Esperava ser recompensado com a adoção como sucessor. Mas Galba escolheu outro. Ferido no orgulho e movido por ambição, Otão conspirou com a Guarda Pretoriana. Em janeiro de 69 d.C., ao grito de “Otho Imperator”, Galba e seu herdeiro foram assassinados. O Senado, acuado, confirmou Otão como imperador.

Um Governo Breve, mas Astuto

Otão sabia que precisava de apoio. Subornou os pretorianos, anistiou senadores e permitiu aos soldados escolherem os seus líderes. Em poucos dias, conquistou o povo e o Senado. Parecia que Roma, enfim, encontrara estabilidade. Mas o império estava dividido.

Guerra Civil: O Império em Ruínas

Do outro lado do Reno, Aulo Vitélio fora proclamado imperador pelas legiões da Germânia. Otão, com pressa de consolidar o poder, decidiu enfrentá-lo antes da chegada das legiões orientais. Contra o conselho dos seus generais, marchou para o norte. A Batalha de Bedríaco foi um desastre.

O Suicídio de um Imperador

Derrotado, Otão ainda tinha opções. As legiões do Danúbio estavam a caminho. Mas o peso da responsabilidade e o horror de uma guerra civil prolongada levaram-no a uma decisão extrema. Na madrugada de 15 de abril de 69 d.C., retirou-se para a sua tenda e cravou um punhal no peito. Tinha 37 anos.

Legado de um Relâmpago

Otão foi imperador por apenas 95 dias. Mas nesse curto espaço de tempo, mostrou mais sensatez e coragem do que muitos dos seus predecessores. Ao escolher a morte para evitar mais sangue romano, deixou uma marca de dignidade rara na história imperial.


Por Albino Monteiro