Lothar Rendulic (1887-1971)
Lothar Rendulic (1887-1971): Uma Vida em Guerra e Comando
Lothar Rendulic foi uma figura de importância significativa, embora frequentemente controversa, na história militar do século XX. Nascido em Wiener Neustadt, Áustria-Hungria, em 23 de outubro de 1887, a sua carreira abrangeu duas Guerras Mundiais, culminando na sua ascensão ao posto de Generaloberst (Coronel-General) na Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial. A trajetória militar de Rendulic foi marcada por diversos comandos em várias frentes, uma reputação de disciplina rigorosa e um julgamento pós-guerra por crimes de guerra, moldando um legado complexo que continua a ser debatido por historiadores.
Primeiros Anos e Entrada no Serviço Militar
Rendulic vinha de uma família militar; o seu pai era oficial do Exército Austro-Húngaro. Essa origem, sem dúvida, influenciou a sua decisão de seguir a carreira militar. Entrou na Academia Militar Theresiana em 1907, formando-se em 1910. O seu serviço inicial foi no Exército Austro-Húngaro, onde se especializou em artilharia. Mesmo nos seus primeiros anos, Rendulic destacou-se pelas suas capacidades intelectuais, evidenciadas pela sua posterior busca por um diploma de direito pela Universidade de Viena, que concluiu em 1932. Essa busca académica, juntamente com os seus deveres militares, realça uma personalidade multifacetada, capaz tanto de comando marcial quanto de rigor intelectual.
Primeira Guerra Mundial e Período Entre Guerras
Durante a Primeira Guerra Mundial, Rendulic serviu em várias frentes, incluindo a Frente Oriental e a Frente Italiana. O seu desempenho valeu-lhe reconhecimento e várias condecorações, solidificando a sua reputação como um oficial competente. Após o colapso do Império Austro-Húngaro, Rendulic fez a transição para o recém-formado Exército Austríaco, ou Bundesheer. O período entre guerras foi um tempo de significativa agitação política e social na Europa Central, e Rendulic, como muitos oficiais da sua geração, navegou por um cenário em constante mudança. Continuou a subir na hierarquia, ocupando várias posições de estado-maior e comando. A sua inclinação intelectual também o levou a servir como adido militar em Londres e Paris durante a década de 1930, ganhando valiosa experiência em diplomacia internacional e observação militar.
Segunda Guerra Mundial: Ascensão ao Alto Comando
A carreira de Rendulic acelerou verdadeiramente com a Anschluss em 1938, quando a Áustria foi anexada pela Alemanha Nazi. Foi integrado na Wehrmacht, inicialmente como Generalmajor (Major-General). A sua adaptabilidade e competência rapidamente se tornaram evidentes, e ele recebeu comandos cada vez mais importantes ao longo da Segunda Guerra Mundial.
A Frente Oriental: Jugoslávia e Lapónia
Um dos comandos iniciais mais significativos de Rendulic foi na Jugoslávia em 1943, onde liderou o 2º Exército Panzer. Este período foi marcado por uma brutal guerra antipartisans contra os Partisans Jugoslavos de Tito. Rendulic ganhou uma reputação de crueldade nessas operações, empregando táticas de terra queimada e realizando severas retaliações contra a população civil suspeita de ajudar os partisans. Essas ações viriam a formar uma parte central das acusações de crimes de guerra contra ele.
Após o seu serviço na Jugoslávia, Rendulic foi transferido para o extremo norte como comandante do 20º Exército de Montanha e das forças da Wehrmacht na Lapónia, Finlândia. De 1944 a 1945, supervisionou a retirada alemã da Finlândia, uma retirada necessária pela paz separada da Finlândia com a União Soviética. Esta retirada, conhecida como a Guerra da Lapónia, foi caracterizada pela destruição sistemática de infraestruturas e cidades no norte da Finlândia como uma tática de "terra queimada" para impedir o avanço das forças soviéticas e finlandesas. Rendulic justificou essas ações como necessidade militar, argumentando que eram essenciais para proteger as suas forças e evitar o seu cerco. No entanto, a escala da destruição levou a acusações de crimes de guerra e causou imenso sofrimento à população civil finlandesa.
Frente Sul: Noruega e Bolsa de Courland
Após a Lapónia, Rendulic foi nomeado comandante-em-chefe das forças alemãs na Noruega em janeiro de 1945. O seu comando lá foi relativamente breve, pois a guerra estava a chegar rapidamente ao fim.
Ele foi então abruptamente transferido de volta para a Frente Oriental, assumindo o comando do Grupo de Exércitos Courland na Bolsa de Courland em março de 1945. Esta era uma situação desesperadora para a Wehrmacht, pois centenas de milhares de soldados alemães estavam presos pelas forças soviéticas na Letónia. A tarefa de Rendulic era manter a bolsa e evitar o seu colapso, um testemunho da confiança que Hitler ainda depositava nas suas capacidades defensivas. Apesar da imensa pressão, Rendulic conseguiu manter uma aparência de ordem e resistência até a rendição final da Alemanha em maio de 1945.
Últimos Comandos e Captura
Nas semanas finais da guerra, os comandos de Rendulic mudaram rapidamente à medida que o colapso alemão se acelerava. Comandou brevemente o Grupo de Exércitos Sul (mais tarde Grupo de Exércitos Ostmark) na Áustria, tentando defender a sua pátria contra o implacável avanço soviético. Ele foi um dos últimos generais alemães a render-se, entregando-se às forças americanas na Áustria em maio de 1945.
Julgamento Pós-Guerra e Legado
Após a sua captura, Lothar Rendulic foi julgado pelo tribunal militar americano em Nuremberga como parte do Julgamento dos Reféns (também conhecido como o Caso Sudeste). As principais acusações contra ele decorriam das suas ações na Jugoslávia e na Finlândia, especificamente a política de terra queimada na Lapónia e as brutais medidas antipartisans na Jugoslávia.
Rendulic defendeu as suas ações como militarmente necessárias, argumentando que a destruição na Finlândia era vital para evitar a captura das suas tropas e que as suas ações na Jugoslávia foram em resposta à violência extrema da guerra partisana. Em 1948, foi considerado culpado de crimes de guerra e condenado a 20 anos de prisão. No entanto, a sua sentença foi comutada, e ele foi libertado em 1951.
Após a sua libertação, Rendulic manteve a sua inocência em relação às acusações mais graves, argumentando que estava apenas a executar ordens em tempo de guerra total. Escreveu vários livros, incluindo as suas memórias, "Gekämpft, gesiegt, geschlagen" (Combatido, Vitorioso, Derrotado), nos quais ofereceu a sua perspetiva sobre os eventos da guerra. Esses escritos frequentemente refletem uma visão de dever militar e necessidade, embora tenham sido examinados criticamente por historiadores.
O legado de Lothar Rendulic permanece complexo. Foi, sem dúvida, um comandante militar altamente capaz e eficaz, conhecido pelas suas habilidades organizacionais, perspicácia tática e capacidade de liderar sob imensa pressão. As suas promoções aos mais altos escalões da Wehrmacht e as suas atribuições a comandos críticos em situações desesperadoras atestam a sua reconhecida proeza militar. No entanto, a sua associação com os aspetos brutais da guerra nazi, particularmente as políticas de terra queimada e as táticas de contra-insurgência, lançam uma longa sombra sobre a sua carreira. O seu julgamento e condenação, mesmo com a posterior comutação, sublinham os dilemas morais e legais enfrentados por comandantes que operam sob as condições extremas da guerra total e no contexto de um regime criminoso.
Os historiadores continuam a analisar as ações de Rendulic, procurando compreender as motivações por trás das suas decisões e as suas implicações mais amplas para a ética militar e as leis da guerra. A sua vida serve como um forte lembrete do devastador custo humano do conflito e do desafio duradouro da responsabilização pelas ações cometidas em tempo de guerra.