Joseph Stilwell: Comandante no Teatro China-Birmânia-Índia
Joseph Stilwell: Comandante no Teatro China-Birmânia-Índia
Joseph Warren Stilwell, apelidado de "Vinegar Joe" devido ao seu temperamento ácido e franqueza, foi uma figura central e controversa no Teatro China-Birmânia-Índia (CBI) durante a Segunda Guerra Mundial. Sua carreira militar, marcada por um profundo conhecimento da China e uma dedicação inabalável aos seus objetivos, foi também pontuada por conflitos amargos com aliados e superiores. Esta monografia explora a vida e o legado de Stilwell, focando em seu papel complexo no CBI e o impacto de suas ações na condução da guerra na Ásia.
Primeiros Anos e Formação
Nascido em 1883 em Palatka, Flórida, Joseph Stilwell graduou-se em West Point em 1904. Sua formação inicial incluiu serviço nas Filipinas e durante a Primeira Guerra Mundial, onde atuou como oficial de inteligência. No entanto, foi seu envolvimento com a China que verdadeiramente moldou sua carreira. Stilwell aprendeu mandarim fluentemente e serviu múltiplas vezes no país nas décadas de 1920 e 1930, incluindo períodos como adido militar em Pequim. Essa experiência profunda lhe proporcionou um conhecimento íntimo da cultura, política e exército chinês, algo que poucos oficiais americanos possuíam. Ele desenvolveu uma admiração pelo povo chinês, mas também uma frustração crescente com a ineficácia e a corrupção do governo nacionalista de Chiang Kai-shek.
O Teatro China-Birmânia-Índia (CBI) e a Missão de Stilwell
Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial após Pearl Harbor, a situação na Ásia se tornou crítica. O Japão havia avançado rapidamente, ocupando vastas áreas da China e ameaçando a Índia. A China era vista como um aliado crucial para manter as forças japonesas ocupadas e evitar que se concentrassem em outros teatros de guerra. Em 1942, Joseph Stilwell foi nomeado Comandante das Forças Terrestres dos EUA no Teatro China-Birmânia-Índia, chefe de gabinete de Chiang Kai-shek e, posteriormente, comandante das forças aliadas na Birmânia.
Sua missão era multifacetada e extremamente desafiadora:
Apoiar o esforço de guerra chinês: Isso envolvia treinar e reequipar o exército nacionalista de Chiang Kai-shek, que Stilwell considerava mal treinado e mal liderado.
Manter a Rota da Birmânia aberta: Esta rota era vital para o suprimento de materiais para a China, mas foi rapidamente cortada pelos japoneses, forçando a operação de transporte aéreo "The Hump" (sobre o Himalaia), uma façanha logística perigosa e limitada.
Conduzir operações ofensivas para retomar a Birmânia: A Birmânia era estratégica para os japoneses e sua reconquista era essencial para reabrir a rota terrestre de suprimentos.
Conflitos e Frustrações
Apesar de sua dedicação, o período de Stilwell no CBI foi marcado por contínuos conflitos.
Relação com Chiang Kai-shek
A relação de Stilwell com Chiang Kai-shek foi, talvez, o maior obstáculo. Stilwell via Chiang como um líder relutante em usar suas melhores divisões contra os japoneses, preferindo preservá-las para um confronto futuro com os comunistas de Mao Tsé-Tung. Ele criticava a corrupção generalizada e a ineficiência do comando chinês. Por sua vez, Chiang ressentia-se da franqueza e da insistência de Stilwell em assumir o controle total das forças chinesas, o que via como uma afronta à sua soberania. A demanda de Stilwell para que o controle total do exército chinês fosse transferido para ele tornou-se um ponto de atrito intransponível.
Relação com Lord Mountbatten e os Britânicos
Stilwell também teve relações tensas com os comandantes britânicos, particularmente com Lord Mountbatten, Comandante Supremo Aliado do Sudeste Asiático. Stilwell via os britânicos como mais preocupados em proteger seus interesses coloniais na Índia do que em lutar efetivamente contra os japoneses na Birmânia. As diferenças de prioridade e estratégia frequentemente levaram a desentendimentos e falta de cooperação.
Desafios Logísticos e Geográficos
Além dos atritos políticos, Stilwell enfrentou desafios logísticos e geográficos monumentais. O terreno da Birmânia era implacável, com selvas densas, montanhas e chuvas torrenciais que dificultavam o movimento de tropas e suprimentos. A dependência do "The Hump" para suprir a China era uma solução de emergência que não atendia às necessidades totais.
Campanhas na Birmânia
Apesar dos obstáculos, Stilwell conseguiu avanços notáveis na Birmânia. Ele supervisionou o treinamento e o reequipamento de duas divisões chinesas no Ramgarh, Índia, conhecidas como o "X Force", transformando-as em unidades de combate eficazes. Em 1944, ele liderou pessoalmente a Campanha de Myitkyina, uma operação extenuante na selva que, embora bem-sucedida em tomar o aeroporto vital, foi controversa devido às pesadas baixas e à longa duração. Ele também trabalhou na construção da Ledo Road (mais tarde renomeada Stilwell Road), um empreendimento colossal projetado para fornecer uma ligação terrestre permanente para a China, em substituição à antiga Rota da Birmânia.
A Demissão de Stilwell e o Legado
Em outubro de 1944, a tensão entre Stilwell e Chiang Kai-shek atingiu um ponto de ruptura. Franklin D. Roosevelt, sob intensa pressão de Chiang, foi forçado a chamar Stilwell de volta aos Estados Unidos. Sua demissão foi um golpe para Stilwell, que sentia que estava à beira de um sucesso significativo.
O legado de Joseph Stilwell é complexo e ambivalente:
Ponto de Vista Positivo: Seus defensores o veem como um comandante dedicado, que enfrentou desafios imensos com coragem e integridade. Ele foi um líder que se preocupava com seus homens e estava disposto a lutar nas condições mais difíceis. Seu esforço em treinar e modernizar o exército chinês foi fundamental para o aumento da capacidade de combate chinesa. A Stilwell Road é um testemunho de sua determinação em superar barreiras logísticas.
Ponto de Vista Negativo/Crítico: Críticos argumentam que sua falta de tato diplomático e sua incapacidade de se adaptar às nuances políticas da China prejudicaram seus objetivos. Sua insistência em controlar o exército chinês era irrealista e desconsiderava a soberania de um aliado. Alguns também questionam a eficácia de suas campanhas na Birmânia em termos de custo-benefício.
Após seu retorno aos EUA, Stilwell foi promovido a general e assumiu o comando das Forças Terrestres do Exército dos EUA. No entanto, sua saúde estava comprometida e ele faleceu em 1946.
Conclusão
Joseph Stilwell foi um militar de princípios, com uma paixão e um conhecimento incomparáveis da China. No Teatro China-Birmânia-Índia, ele enfrentou uma das missões mais ingratas e complexas da Segunda Guerra Mundial. Embora sua personalidade combativa e sua aversão à política tenham levado a sua queda, ele deixou uma marca indelével. Stilwell personificou a frustração americana com a situação na China, e seus esforços, embora imperfeitos, foram cruciais para manter a China na guerra e, em última instância, para a eventual vitória aliada no Pacífico. Sua história continua a ser um estudo de caso fascinante sobre os desafios da guerra de coalizão e a interseção entre o poder militar e a diplomacia.