João Primicério (423 – 425, usurpador)

 


João Primicério – O Usurpador do Trono Romano (423–425)

Introdução

O período final do Império Romano do Ocidente foi marcado por instabilidade política, usurpações e disputas internas pelo poder. Entre os personagens que emergiram nesse cenário turbulento está João, conhecido como João Primicério, que assumiu o trono imperial entre 423 e 425 sem o reconhecimento oficial de Constantinopla. Esta monografia busca analisar a ascensão, o governo e a queda de João, contextualizando sua figura dentro da crise do império e das relações entre Oriente e Ocidente.

Contexto Histórico

  • O Império Romano do Ocidente enfrentava sérias dificuldades no início do século V:

    • Invasões bárbaras constantes (vândalos, visigodos, suevos).

    • Fragilidade econômica e militar.

    • Crescente dependência de generais bárbaros e cortesãos influentes.

  • Em 423, o imperador Honório faleceu sem herdeiros diretos, abrindo um vácuo de poder.

  • O Império Romano do Oriente, sob Teodósio II, hesitou em nomear um sucessor imediato.

Ascensão de João ao Trono

  • João era um alto funcionário da corte ocidental, ocupando o cargo de primicerius notariorum (chefe dos notários imperiais).

  • Com o apoio do general Castino, João foi proclamado imperador em Ravena no final de 423.

  • Sua ascensão foi considerada ilegítima por Constantinopla, que via João como um usurpador.

Estratégias de Legitimação

  • João tentou consolidar seu poder:

  • Emitindo moedas com sua efígie.

  • Buscando apoio entre senadores e elites locais.

  • Enviando embaixadas ao Oriente para buscar reconhecimento — sem sucesso.

Conflito com o Oriente

  • Teodósio II, imperador do Oriente, nomeou Valentiniano III (filho de Constâncio III e Gala Placídia) como legítimo herdeiro do trono ocidental.

  • Em 425, uma expedição militar oriental liderada por Ardabúrio e seu filho Aspar foi enviada contra João.

Queda de João

  • João foi traído por seus próprios aliados e capturado em Ravena.

  • Foi mutilado (teve a mão direita cortada) e executado publicamente em Aquileia.

  • Valentiniano III foi então proclamado imperador do Ocidente com o apoio de sua mãe, Gala Placídia, e do Oriente.

 Análise Historiográfica

  • João é frequentemente visto como um usurpador, mas sua figura também revela:

    • A fragilidade das instituições imperiais ocidentais.

    • A crescente influência do Oriente nas decisões políticas do Ocidente.

    • A importância dos altos funcionários civis na política imperial.

  • Alguns historiadores modernos sugerem que João poderia ter sido um administrador competente, mas foi vítima das circunstâncias e da falta de apoio militar duradouro.

Conclusão

João Primicério representa um dos últimos episódios de usurpação no já enfraquecido Império Romano do Ocidente. Sua breve tentativa de manter a unidade e estabilidade do império fracassou diante da oposição do Oriente e da falta de legitimidade dinástica. No entanto, sua história ilustra as complexas dinâmicas de poder, lealdade e legitimidade que marcaram os últimos anos do império romano no Ocidente.