Hugo Sperrle (promovido em 1940)
Hugo Sperrle: Um Estudo Abrangente sobre o Marechal da Luftwaffe
Hugo Sperrle, promovido a Generalfeldmarschall (Marechal de Campo) em 1940, foi uma figura proeminente na Luftwaffe durante a Segunda Guerra Mundial. Sua carreira, desde os primórdios do poder aéreo alemão até o colapso do Terceiro Reich, oferece uma visão complexa e muitas vezes controversa de um comandante aéreo. Esta monografia busca explorar a vida e a carreira de Sperrle da forma mais completa possível, examinando suas contribuições, desafios e o legado que deixou.
Primeiros Anos e Ascensão na Aviação Alemã
Hugo Sperrle nasceu em 7 de fevereiro de 1885, em Ludwigsburg, Império Alemão. Sua carreira militar começou no Exército Alemão em 1903, onde serviu na artilharia. Com o advento da Primeira Guerra Mundial, Sperrle demonstrou um interesse crescente na nascente força aérea. Ele foi um dos primeiros oficiais a serem transferidos para a Luftstreitkräfte (Serviço Aéreo do Exército Alemão), onde rapidamente se destacou. Sua experiência inicial na artilharia pode ter-lhe proporcionado uma compreensão tática valiosa, que mais tarde aplicaria no campo da aviação.
Após o armistício e a subsequente proibição de uma força aérea alemã pelo Tratado de Versalhes, Sperrle, como muitos outros oficiais ambiciosos, manteve-se envolvido secretamente com o desenvolvimento da aviação. Ele desempenhou um papel discreto, mas crucial, na manutenção do conhecimento e da perícia aérea alemã, em antecipação ao eventual rearmamento. Com a ascensão de Hitler ao poder e a criação da Luftwaffe em 1935, Sperrle foi um dos oficiais veteranos chamados para formar o novo braço aéreo. Sua lealdade ao regime e sua experiência anterior o posicionaram para uma rápida ascensão.
O Comando da Legião Condor e a Guerra Civil Espanhola
O ponto de viragem na carreira de Sperrle e um dos eventos mais formativos para a Luftwaffe pré-Segunda Guerra Mundial foi seu comando da Legião Condor na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Enviada para apoiar as forças nacionalistas de Francisco Franco, a Legião Condor foi, em essência, um campo de provas para as novas doutrinas e equipamentos da Luftwaffe.
Sob a liderança de Sperrle, a Legião Condor não apenas forneceu apoio aéreo tático, mas também testou e refinou conceitos como o bombardeio de mergulho (com o Ju 87 Stuka), o apoio aéreo aproximado e o bombardeio estratégico. O infame bombardeio de Guernica em abril de 1937, embora controverso e amplamente condenado, demonstrou a Sperrle e ao Alto Comando Alemão o poder devastador da aviação moderna contra alvos civis. Para Sperrle, a Espanha foi uma oportunidade inestimável de experimentar e aprender, moldando suas futuras abordagens à guerra aérea. Ele retornou da Espanha como um herói de guerra e um dos comandantes mais experientes da Luftwaffe.
A Segunda Guerra Mundial: Da Blitzkrieg à Batalha da Grã-Bretanha
Com o início da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939, Sperrle estava no auge de seu poder. Ele foi nomeado comandante da Luftflotte 3 (Frota Aérea 3), uma das principais formações aéreas da Luftwaffe.
Campanha da Polônia (1939): Embora a Luftflotte 3 não tenha tido um papel central, a campanha polonesa validou as táticas de Blitzkrieg, nas quais a superioridade aérea e o apoio aéreo aproximado eram cruciais para o avanço rápido das forças terrestres.
Batalha da França e Países Baixos (1940): A Luftflotte 3 de Sperrle desempenhou um papel vital na esmagadora vitória alemã. Seus aviões auxiliaram no cerco de Dunkirk e no avanço rápido das divisões panzer, demonstrando a eficácia da coordenação entre ar e terra. Foi por seu sucesso nessas campanhas que Hugo Sperrle foi promovido a Generalfeldmarschall em julho de 1940, juntamente com outros proeminentes comandantes da Luftwaffe, em uma cerimônia que marcou o auge do poder militar alemão.
Batalha da Grã-Bretanha (1940): O maior desafio de Sperrle e da Luftwaffe. A Luftflotte 3, baseada na França ocupada, foi encarregada de atacar alvos no sul da Inglaterra, incluindo aeródromos da RAF e cidades. No entanto, a Batalha da Grã-Bretanha se mostrou um ponto de virada. A relutância de Göring em aceitar as recomendações de seus comandantes, a resiliência da RAF, a superioridade dos caças britânicos (Spitfire e Hurricane) e a eficácia do sistema de radar britânico levaram a pesadas perdas para a Luftwaffe. Sperrle, como outros comandantes, expressou frustração com as ordens contraditórias e a falta de uma estratégia clara de Berlim. Apesar de seus esforços, a Luftwaffe não conseguiu destruir a RAF, e a invasão da Grã-Bretanha (Operação Leão Marinho) teve que ser adiada indefinidamente. Esta derrota marcou o início do declínio da invencibilidade da Luftwaffe.
Anos Finais da Guerra e Legado
Após a Batalha da Grã-Bretanha, a Luftflotte 3 de Sperrle permaneceu no Ocidente, desempenhando um papel defensivo e ocasionalmente participando de operações de bombardeio de retaliação. Com a invasão aliada da Normandia em junho de 1944, a frota aérea de Sperrle, severamente enfraquecida e com escassez de recursos, foi incapaz de oferecer resistência significativa à avassaladora superioridade aérea aliada. Essa foi uma frustração imensa para Sperrle, que viu a outrora poderosa Luftwaffe reduzida a uma sombra de seu passado.
Em agosto de 1944, Sperrle foi demitido de seu comando e efetivamente posto na reserva. Essa dispensa refletiu a crescente impaciência de Hitler com seus comandantes e o declínio geral da situação da guerra para a Alemanha.
Após a rendição da Alemanha em 1945, Sperrle foi preso pelos Aliados e levado a julgamento nos Julgamentos de Nuremberg (o Julgamento do Alto Comando), onde foi acusado de crimes de guerra. Ele foi um dos 14 acusados e, notavelmente, foi absolvido de todas as acusações em 1948. A defesa argumentou que ele havia simplesmente cumprido ordens e que suas ações não constituíam crimes de guerra sob a lei internacional da época.
Hugo Sperrle faleceu em 2 de abril de 1953, em Munique. Sua carreira é um testemunho da rápida evolução da guerra aérea no século XX. Ele foi um dos arquitetos da Luftwaffe e um comandante-chave nas vitórias iniciais da Alemanha, mas também testemunhou e sofreu com o declínio de seu poder. Seu legado é complexo: ele foi um comandante competente e experiente, mas também uma figura do regime nazista que participou de campanhas que causaram imensa destruição e sofrimento. Sua absolvição em Nuremberg continua a ser um ponto de debate, refletindo as complexidades da responsabilidade individual em tempos de guerra. A história de Hugo Sperrle é, em última análise, a história de um militar que, como muitos outros, foi arrastado e moldado pelos cataclismos de sua época.