Hermann Göring: Comandante da Luftwaffe e Marechal de Campo do Terceiro Reich
Ascensão e Queda de um Império: A Sombra de Hermann Göring no Terceiro Reich
Hermann Wilhelm Göring (1893-1946) não foi apenas um nome entre tantos no panteão nazista; ele foi uma força motriz, uma figura central que moldou a ascensão e a brutalidade do Terceiro Reich. De herói de guerra condecorado a arquiteto de genocídio, sua trajetória é um mergulho sombrio nos abismos da corrupção e do poder sem limites.
Do Céu da Primeira Guerra à Intrigas Políticas
Nascido numa família abastada em Rosenheim, Baviera, Göring parecia destinado a uma vida de privilégios. Mas foi nos céus da Primeira Guerra Mundial que seu nome começou a ser forjado. Como piloto de caça, ele se tornou um ás com impressionantes 22 vitórias, ganhando a cobiçada condecoração Pour le Mérite. Essa experiência, que aguçou seu militarismo e temperamento autoritário, seria crucial para o que viria a seguir.
A desilusão com a República de Weimar pós-guerra empurrou Göring para os braços do nascente Partido Nazista em 1922. Sua fama de herói, sua oratória envolvente e uma lealdade quase cega a Adolf Hitler rapidamente o catapultaram para o topo. Ferido no infame Putsch da Cervejaria em 1923, ele provou sua devoção. Nos anos de consolidação nazista, Göring foi um mestre na arte de angariar apoio político e financeiro, pavimentando o caminho para o poder de Hitler.
O Arquiteto da Luftwaffe: Poder nos Céus e na Terra
Com Hitler no comando em 1933, Göring escalou posições de forma vertiginosa. Nomeado Ministro do Interior da Prússia e, em seguida, Ministro da Aviação, ele se tornou o principal arquiteto da recriação da Força Aérea Alemã, a Luftwaffe. Um ato ousado e direto de violação do Tratado de Versalhes. Sob sua batuta, a Luftwaffe floresceu, transformando-se numa das mais modernas e temidas forças aéreas do mundo, peça fundamental na estratégia de Blitzkrieg (guerra relâmpago) que aterrorizou a Europa no início da Segunda Guerra Mundial.
Göring possuía um inegável talento para a organização e o planejamento inicial da força aérea. Sua obsessão pela superioridade aérea o levou a investir pesado em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias aeronáuticas. Contudo, sua gestão era, ironicamente, tão grandiosa quanto caótica. Marcada por caprichos pessoais, corrupção desenfreada e uma tendência a interferir em áreas que não eram de sua alçada, sua liderança acabaria por minar a eficácia da própria força que ele tanto se orgulhava.
O "Número Dois" do Reich: Títulos, Riquezas e Atrocidades
A influência de Göring transcendeu os limites da Luftwaffe. Ele acumulou uma vasta coleção de títulos e poderes, tornando-se não apenas um dos homens mais ricos, mas também um dos mais influentes do Terceiro Reich. Entre suas múltiplas posições, destacam-se:
Comandante em Chefe da Luftwaffe (a partir de 1935): Controle absoluto sobre os céus alemães.
Plenipotenciário do Plano Quadrienal (1936): Responsável por preparar a economia alemã para a guerra, com poderes imensos sobre a indústria, agricultura e comércio. Isso lhe deu um controle quase total sobre os recursos do Estado.
Presidente do Reichstag: Um cargo cerimonial, mas que evidenciava sua proeminência política.
Mestre de Caça do Reich: Uma posição que sublinhava sua paixão pela caça e seu estilo de vida luxuoso.
Marechal de Campo (Generalfeldmarschall): Em 1938, ele foi o primeiro oficial da Luftwaffe a alcançar essa alta patente. Mas não parou por aí. Em 1940, após a fulminante queda da França, uma patente ainda mais alta foi criada especificamente para ele: Reichsmarschall, tornando-o o oficial de mais alta patente em toda a Wehrmacht.
Essa concentração de poder o consolidou como o "número dois" de Hitler, seu sucessor designado, e o homem a quem muitos se reportavam diretamente. Ele presidia reuniões ministeriais, ditava decisões cruciais sobre políticas internas e externas, e era uma figura central na máquina de propaganda nazista.
O Coração Sombrio da "Solução Final"
A participação de Göring nos crimes mais hediondos do regime nazista é inquestionável e profunda. Ele foi um dos primeiros a ser informado sobre a "Solução Final" e, em 31 de julho de 1941, assinou a ordem que autorizava Reinhard Heydrich a tomar "todas as medidas necessárias" para a implementação da "solução completa da questão judaica". Esse documento é uma das provas mais contundentes de seu envolvimento direto e consciente no Holocausto.
Embora não tenha sido um executor direto nos campos de extermínio, Göring era parte integrante da engrenagem que concebeu e operou as câmaras de gás. Sua busca insaciável por poder e riquezas, sua notória indiferença ao sofrimento humano e sua lealdade cega a Hitler o tornaram cúmplice de atrocidades que desafiam a compreensão.
O Crepúsculo de um Tirano: Decadência e o Julgamento Final
À medida que as marés da guerra viravam contra a Alemanha Nazista, a influência de Göring começou a ruir. Sua incompetência como estrategista militar, sua obsessão doentia por obras de arte saqueadas e seu crescente vício em morfina minaram sua capacidade de liderança. A Luftwaffe, sua criação de orgulho, foi gradualmente aniquilada pelas forças aéreas Aliadas.
No final da guerra, com Berlim sitiada pelas tropas soviéticas, Göring fez sua última jogada desesperada: tentou assumir o controle do regime, convencido de que Hitler estava incapacitado. Hitler, porém, interpretou a ação como traição, despojando Göring de todos os seus cargos e ordenando sua prisão.
Após a rendição alemã, Göring foi capturado pelos Aliados e levado a julgamento em Nuremberg, sendo o mais proeminente e alto oficial nazista a se sentar no banco dos réus. Durante o processo, ele demonstrou uma inteligência afiada, uma arrogância notável e uma capacidade surpreendente de argumentação, tentando justificar suas ações e as do regime.
Acusado de conspiração para cometer crimes contra a paz, planejar e travar guerras de agressão, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, Göring foi considerado culpado de todas as quatro acusações e condenado à morte por enforcamento. Contudo, poucas horas antes de sua execução, em 15 de outubro de 1946, Hermann Göring frustrou a forca, cometendo suicídio ao ingerir uma cápsula de cianeto de potássio.
Legado: Um Lembrete Sombrio
Hermann Göring permanece como uma das figuras mais complexas e repulsivas da Segunda Guerra Mundial. Sua jornada, de herói de guerra a arquiteto de genocídio, ecoa como um lembrete sombrio dos perigos do extremismo, da corrupção avassaladora do poder e da fragilidade da moralidade em tempos de crise. Sua biografia não é apenas um registro histórico, mas um testemunho da capacidade humana para a crueldade e, crucialmente, da importância de responsabilizar aqueles que a praticam. Estudar Göring é revisitar não apenas um período, mas também as escolhas que podem moldar o destino de nações e indivíduos.
Por Albino Monteiro