Hermann Balck (1893-1982)
Hermann Balck: Um Perfil do Comandante de Panzers da Wehrmacht
Hermann Balck (1893-1982) foi um dos mais notáveis e, paradoxicamente, menos celebrados comandantes de panzers da Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial. Reconhecido por suas táticas inovadoras, audácia e excepcional liderança em combate, Balck se destacou em diversas frentes, obtendo vitórias notáveis contra forças numericamente superiores. Sua carreira é um testemunho da evolução da guerra mecanizada e da importância da iniciativa e da flexibilidade no campo de batalha.
Início da Carreira e Primeira Guerra Mundial
Nascido em 7 de dezembro de 1893, em Danzig-Langfuhr, Balck veio de uma longa linhagem de militares, com seu pai, William Balck, sendo um general prussiano proeminente e teórico militar. Essa herança certamente influenciou sua paixão pela estratégia e tática. Hermann Balck ingressou no Exército Imperial Alemão em 1913, servindo no 10º Batalhão de Caçadores (Jäger).
Durante a Primeira Guerra Mundial, Balck demonstrou bravura e aptidão para a liderança. Ele serviu em diversas frentes, incluindo a Frente Ocidental, a Frente Italiana e os Bálcãs, sendo ferido várias vezes. Sua experiência em diferentes tipos de terreno e situações de combate moldou sua compreensão da guerra, e ele foi condecorado com a Cruz de Ferro de Primeira Classe e a Ordem Pour le Mérite, uma das mais altas honrarias militares prussianas, aos 22 anos.
O Período entre Guerras e a Ascensão do "Blitzkrieg"
Após a Grande Guerra, Balck permaneceu no reduzido Reichswehr, o exército alemão permitido pelo Tratado de Versalhes. Nesse período de restrições, ele se dedicou ao estudo e ao desenvolvimento de novas doutrinas militares, especialmente as relacionadas à guerra de movimento. Balck foi um dos teóricos que contribuíram para a formulação dos princípios que viriam a ser conhecidos como "Blitzkrieg" (Guerra Relâmpago). Sua capacidade de pensar de forma não convencional e sua busca por soluções dinâmicas o tornaram um expoente da modernização militar alemã. Ele teve um papel fundamental no desenvolvimento e treinamento das táticas de ataque coordenadas que se tornariam a assinatura das forças blindadas alemãs.
A Segunda Guerra Mundial: O Mestre da Guerra de Movimento
A verdadeira estrela de Balck ascendeu durante a Segunda Guerra Mundial. Inicialmente, ele serviu como oficial de estado-maior no início da guerra. No entanto, sua reputação como um brilhante oficial tático o levou a ser colocado no comando de formações de combate.
Campanhas Notáveis:
Batalha da França (1940): Balck, então comandante de um regimento de rifle (Schützen-Regiment 1) na 1ª Divisão Panzer, demonstrou sua capacidade de liderança e manobra rápida durante a invasão da França. Ele foi fundamental no avanço através da Floresta de Ardennes e na corrida para o Canal da Mancha.
Frente Oriental (1941-1943): Transferido para a Frente Oriental, Balck comandou a 11ª Divisão Panzer, uma das formações de elite da Wehrmacht. Ele se destacou em inúmeras batalhas defensivas e ofensivas, particularmente em 1942 e 1943, durante a fase mais intensa da guerra na União Soviética. Sua capacidade de liderar contra-ataques decisivos e de se adaptar rapidamente às mudanças no campo de batalha lhe rendeu o respeito de seus superiores e o temor de seus adversários. Ele é frequentemente citado por suas habilidades em operações de "contenção e destruição", onde suas unidades infligiam pesadas perdas ao inimigo mesmo em inferioridade numérica.
A Campanha da Normandia (1944): Embora tenha chegado à frente ocidental mais tarde, Balck teve um papel crucial na tentativa de conter o avanço aliado após o Dia D. Como comandante do Grupo de Exércitos G, na França, ele se viu em uma situação desesperadora, lutando contra uma força aérea aliada superior e um número esmagador de tropas. Apesar das adversidades, Balck conseguiu organizar retiradas coordenadas e contra-ataques limitados que, em outras mãos, teriam resultado em desastres ainda maiores.
O Leste e a Hungria (1944-1945): Nos estágios finais da guerra, Balck foi transferido de volta para a Frente Oriental, onde comandou o 6º Exército Alemão e mais tarde o Grupo de Exércitos Balck na Hungria. Aqui, ele liderou algumas das últimas grandes operações ofensivas e defensivas alemãs contra o Exército Vermelho que avançava, incluindo a Batalha de Debrecen, onde ele causou pesadas baixas soviéticas. Apesar dos esforços de Balck, a maré da guerra já estava virada contra a Alemanha, e suas habilidades estratégicas e táticas apenas conseguiam atrasar o inevitável.
Filosofia de Comando e Táticas
Hermann Balck era conhecido por uma série de características que o distinguiam como comandante:
Foco na Iniciativa e Descentralização: Balck acreditava em dar autonomia aos seus comandantes subordinados, encorajando a iniciativa e a tomada de decisões rápidas no campo de batalha. Ele entendia que a rigidez de comando era fatal na guerra de movimento.
Manobra e Surpresa: Ele era um mestre da manobra e da surpresa. Suas táticas frequentemente envolviam movimentos de flanco audaciosos, ataques noturnos e o uso eficaz da velocidade e do fogo concentrado dos panzers para desorganizar e destruir o inimigo.
Reconhecimento Terrestre Pessoal: Ao contrário de muitos generais que comandavam de longe, Balck era famoso por sua presença constante na linha de frente, avaliando pessoalmente a situação e tomando decisões no local. Essa proximidade com o combate lhe dava uma compreensão incomparável do terreno e das condições de suas tropas.
Habilidade em Batalhas Defensivas: Embora fosse um mestre em ofensivas, Balck também se destacou em operações defensivas, usando a mobilidade e o contra-ataque para estabilizar linhas e infligir perdas significativas aos inimigos que avançavam.
Relação com Subordinados: Embora exigente, Balck era geralmente respeitado por suas tropas por sua competência e por sua preocupação com o bem-estar dos seus homens.
Pós-Guerra e Legado
Após a rendição da Alemanha em maio de 1945, Hermann Balck foi feito prisioneiro de guerra pelos Aliados. Ele passou cerca de dois anos em cativeiro. Ao retornar à vida civil, Balck enfrentou dificuldades, como muitos ex-oficiais alemães de alto escalão. Ele nunca foi julgado por crimes de guerra, e a sua reputação militar permaneceu intacta.
Balck foi um dos poucos generais alemães a serem consultados por historiadores e estrategistas após a guerra. Seus insights sobre as operações de panzers e a guerra de movimento foram altamente valorizados. Sua biografia, "Ordem no Campo de Batalha" (Order in Battle), oferece uma perspectiva valiosa sobre a liderança militar e as operações de guerra.
Hermann Balck faleceu em 29 de novembro de 1982, em Asperg, Alemanha Ocidental. Embora não seja tão conhecido quanto alguns de seus contemporâneos, como Heinz Guderian ou Erwin Rommel, sua contribuição para a doutrina da guerra blindada e suas notáveis realizações em combate o colocam entre os maiores comandantes da Segunda Guerra Mundial. Sua carreira é um estudo de caso sobre a aplicação da iniciativa, adaptabilidade e liderança em um dos períodos mais dinâmicos da história militar.