Gerd von Rundstedt: O Marechal Respeitado do Reich

 

Gerd von Rundstedt: O Marechal Respeitado do Reich

No panteão dos estrategistas militares da Segunda Guerra Mundial, poucos nomes evocam tanto respeito e controvérsia quanto o de Gerd von Rundstedt. Um dos mais experientes e conservadores marechais de campo da Alemanha, sua carreira militar estendeu-se por mais de cinco décadas, marcando presença distintiva em ambos os conflitos mundiais e comandando grupos de exércitos em algumas das campanhas mais cruciais da história. Conhecido por sua abordagem cautelosa e metódica, Rundstedt era um militar tradicionalista que, por muitas vezes, se viu em profundo desacordo com as táticas agressivas e as ideologias opressoras do regime nazista.

A Forja de um Estrategista: De Aschersleben aos Campos de Batalha

Nascido em 1875 em Aschersleben, Rundstedt vinha de uma venerável família prussiana com uma longa e rica tradição militar. Ao ingressar no exército em 1892, sua aptidão para o planejamento estratégico e a organização logo se tornou evidente. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele atuou principalmente em funções de estado-maior, onde sua competência e atenção meticulosa aos detalhes foram inestimáveis. Foi ali que Rundstedt forjou sua experiência no planejamento de operações em larga escala e na coordenação de grandes formações, habilidades que o acompanhariam por toda a vida militar. Ao final do conflito, já ostentava a patente de major.

O período entre guerras viu Rundstedt desempenhar um papel fundamental na reconstrução clandestina da Reichswehr, o exército alemão severamente limitado pelo Tratado de Versalhes. Sua ascensão na hierarquia foi meteórica, consolidando-o como uma figura respeitada e influente no corpo de oficiais. Sua adesão inabalável aos princípios militares clássicos e sua lealdade à instituição, em detrimento de qualquer facção política, garantiram-lhe um lugar de destaque. Em 1938, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Rundstedt era um dos generais mais antigos e prestigiados do exército alemão. Contudo, sua aversão a Hitler e ao Partido Nazista era notória, a ponto de levá-lo a uma breve aposentadoria em protesto às crescentes interferências políticas nas Forças Armadas.

O Chamado do Dever: Da Blitzkrieg na Polônia à Polêmica de Dunquerque

A aposentadoria de Rundstedt durou pouco. Com a iminente invasão da Polônia em 1939, Hitler, reconhecendo sua vasta experiência, o convocou de volta ao serviço ativo. Rundstedt foi nomeado comandante do Grupo de Exércitos Sul, uma das duas principais formações alemãs encarregadas da invasão. Sob seu comando, a Blitzkrieg foi executada com uma eficiência devastadora, avançando rapidamente e esmagando as defesas polonesas. Embora a Blitzkrieg fosse uma doutrina relativamente nova, a supervisão meticulosa de Rundstedt e sua adesão aos objetivos estratégicos garantiram o sucesso da operação, solidificando sua reputação como um comandante capaz de coordenar operações em grande escala.

Após a campanha polonesa, Rundstedt foi transferido para a Frente Ocidental. Na Campanha da França em 1940, ele comandou o Grupo de Exércitos A, que desempenhou o papel crucial no plano de Manstein para flanquear a Linha Maginot. Suas forças, incluindo as divisões panzer de Guderian, romperam as Ardenas e cercaram as forças aliadas em Dunquerque. No entanto, foi Rundstedt quem emitiu a polêmica "ordem de parada" que temporariamente deteve o avanço dos panzers em Dunquerque, permitindo a evacuação de um grande número de tropas britânicas e francesas. A razão exata para esta ordem ainda é debatida por historiadores, mas Rundstedt sempre afirmou ter agido para preservar seus blindados para a próxima fase da campanha. Após a vitória na França, ele foi promovido a Marechal de Campo.

Nos Redemoinhos da Frente Oriental e a Defesa do Ocidente

Em 1941, Rundstedt comandou o Grupo de Exércitos Sul na Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética. Suas forças, compostas por cerca de 70 divisões, avançaram pela Ucrânia, enfrentando resistência feroz e logística desafiadora. Apesar dos sucessos iniciais, capturando Kiev e grande parte do oeste da Ucrânia, Rundstedt enfrentou crescentes divergências com Hitler sobre a estratégia. Ele defendia uma concentração de forças em direção a Moscou, enquanto Hitler insistia em desviar recursos para capturar o Cáucaso e seus campos de petróleo. A fadiga das tropas, a extensão das linhas de suprimento e o rigoroso inverno russo começaram a cobrar seu preço. Quando o inverno se aprofundou e as contra-ofensivas soviéticas começaram, Rundstedt solicitou permissão para retirar suas forças para posições defensivas mais sustentáveis. Hitler recusou, resultando em uma amarga discussão que levou à demissão de Rundstedt em dezembro de 1941.

Em 1942, Rundstedt foi reconvocado e nomeado Comandante-em-Chefe do Oeste (OB West), responsável por defender a Europa Ocidental da invasão aliada esperada. Ele trabalhou incansavelmente para fortalecer as defesas do Muro do Atlântico, mas enfrentou desafios significativos, incluindo a falta de recursos, a escassez de mão de obra e as constantes interferências de Hitler. Com a iminente Operação Overlord em 1944, Rundstedt divergiu fundamentalmente de Rommel, seu subordinado, sobre a melhor forma de combater o desembarque. Enquanto Rommel defendia que as tropas Aliadas deveriam ser esmagadas nas praias, Rundstedt preferia manter as reservas de blindados mais recuadas para um contra-ataque decisivo, acreditando que a superioridade aérea aliada tornaria impossível mover grandes formações sob bombardeio. A indecisão e a interferência de Hitler no controle das reservas blindadas resultaram em uma resposta alemã desorganizada e ineficaz quando os Aliados desembarcaram na Normandia em 6 de junho de 1944. Após o fracasso em conter o avanço Aliado, Rundstedt foi novamente demitido por Hitler.

O Último Fôlego e o Legado de um Marechal

No final de 1944, com a situação militar alemã em desespero, Hitler mais uma vez recorreu a Rundstedt para comandar a última grande ofensiva alemã na Frente Ocidental, a Batalha das Ardenas (também conhecida como Ofensiva de Von Rundstedt). Embora Rundstedt tivesse sérias dúvidas sobre a viabilidade da operação, ele seguiu as ordens. A ofensiva, embora inicialmente surpreendente, foi eventualmente contida e rechaçada pelas forças aliadas devido à superioridade aérea, à escassez de combustível e à forte resistência americana. Esta foi a última grande campanha de Rundstedt, e ele foi demitido pela terceira e última vez em março de 1945, pouco antes do fim da guerra.

Gerd von Rundstedt foi capturado pelos americanos em maio de 1945 e acusado de crimes de guerra, incluindo o Massacre de Malmedy durante a Batalha das Ardenas e o assassinato de comandos Aliados. No entanto, seu julgamento foi adiado devido à sua idade avançada e à sua saúde debilitada. Ele foi eventualmente libertado em 1949 sem nunca ter sido julgado.

Rundstedt faleceu em 1953, aos 77 anos, em Hanôver. Ele é lembrado como um dos últimos representantes da velha escola de oficiais prussianos, um general profissional que, apesar de servir a um regime que desprezava, manteve um forte senso de dever e honra militar. Sua carreira é um testemunho da complexidade de servir sob um regime totalitário e da difícil escolha entre lealdade ao estado e princípios pessoais. A figura de Rundstedt ecoa nas páginas da história como a de um marechal que, mesmo diante das adversidades ideológicas e das falhas de um regime, buscou honrar o código militar que o definia.


Por Albino Monteiro