Georg von Küchler (promovido em 1942)
Marechal de Campo Georg von Küchler: Uma Análise Abrangente
Georg von Küchler (1881-1968) foi um proeminente oficial do exército alemão que serviu durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Sua carreira culminou com sua promoção a Marechal de Campo em 1942, um reconhecimento de suas vitórias e comando, especialmente na Frente Oriental. No entanto, sua trajetória é também marcada pela complexidade moral e ética inerente ao serviço sob o regime nazista.
Primeiros Anos e Início da Carreira Militar
Nascido em 30 de maio de 1881, em Philippsruhe, perto de Hanau, no Império Alemão, Georg von Küchler veio de uma família com tradição militar. Ingressou no Exército Imperial Alemão em 1900, servindo inicialmente na artilharia. Sua formação inicial o preparou para as realidades da guerra moderna, e ele demonstrou aptidão para a estratégia e a organização.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Küchler serviu em várias funções de estado-maior e de comando de artilharia. Sua experiência nos campos de batalha da Grande Guerra, que incluiu tanto a guerra de trincheiras quanto as ofensivas de movimento, foi fundamental para moldar sua doutrina militar. Ele foi condecorado por sua bravura e competência, estabelecendo uma reputação de oficial capaz e meticuloso.
Após a derrota alemã em 1918 e o Tratado de Versalhes, que impôs severas restrições ao exército alemão, Küchler permaneceu nas fileiras do reduzido Reichswehr. Durante o período entre guerras, ele se dedicou à modernização do exército e ao desenvolvimento de novas táticas, especialmente no campo da artilharia e da guerra combinada. Sua ascensão na hierarquia militar foi gradual, mas constante, refletindo sua dedicação e suas habilidades organizacionais.
Ascensão na Wehrmacht e Campanhas Iniciais da Segunda Guerra Mundial
Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933 e o rearmamento da Alemanha, a carreira de Küchler ganhou novo ímpeto. Em 1937, ele foi nomeado Inspetor de Escolas de Artilharia, uma posição crucial para a formação dos futuros oficiais da Wehrmacht. Sua experiência e conhecimento foram vitais para preparar o exército alemão para os desafios que se avizinhavam.
Em 1939, com a invasão da Polônia, que marcou o início da Segunda Guerra Mundial, Georg von Küchler comandou o 3º Exército. Suas tropas foram fundamentais no avanço rápido e decisivo através do "Corredor Polonês" e na tomada de Varsóvia. A campanha polonesa demonstrou a eficácia da Blitzkrieg, e Küchler foi um dos comandantes que a implementaram com sucesso.
Em 1940, durante a Batalha da França, Küchler liderou o 18º Exército. Este exército teve um papel significativo na invasão da Holanda e da Bélgica, superando as defesas aliadas e contribuindo para a rápida derrota das forças francesas e britânicas. Sua performance nessas campanhas consolidou sua reputação como um comandante competente e confiável.
A Frente Oriental e a Promoção a Marechal de Campo
O ponto de virada na carreira de Küchler, e de fato para muitos comandantes alemães, foi a invasão da União Soviética em junho de 1941, a Operação Barbarossa. O 18º Exército de Küchler, parte do Grupo de Exércitos Norte sob o comando do Marechal de Campo Wilhelm Ritter von Leeb, foi encarregado de avançar pelo Báltico em direção a Leningrado.
A campanha na Frente Oriental foi brutal e implacável. O 18º Exército de Küchler enfrentou uma resistência soviética feroz, condições climáticas extremas e linhas de suprimento cada vez mais esticadas. Apesar dessas adversidades, suas tropas avançaram significativamente, participando do cerco a Leningrado, que se tornaria um dos mais longos e sangrentos cercos da história militar. Küchler demonstrou uma capacidade notável de manter a coesão de suas tropas e de continuar a ofensiva mesmo sob pressão intensa.
Em 17 de janeiro de 1942, em reconhecimento aos seus sucessos e à sua liderança na Frente Oriental, Georg von Küchler foi promovido a Marechal de Campo (Generalfeldmarschall). Esta promoção o colocou entre a elite dos comandantes militares alemães. No mesmo mês, ele substituiu von Leeb como comandante do Grupo de Exércitos Norte.
Como comandante do Grupo de Exércitos Norte, Küchler teve a responsabilidade de manter o cerco a Leningrado e de defender as posições alemãs contra as contraofensivas soviéticas. A frente era estática e desgastante, com combates pesados e perdas maciças de ambos os lados. Küchler, no entanto, conseguiu manter a linha e repelir vários ataques soviéticos, demonstrando resiliência e habilidade defensiva.
Relação com o Regime Nazista e Desligamento
Apesar de sua competência militar, a relação de Küchler com o regime nazista foi complexa. Como muitos oficiais da velha guarda, ele não era um ideólogo nazista. No entanto, ele serviu fielmente ao regime e implementou suas diretrizes, mesmo aquelas que envolviam crimes de guerra e atrocidades contra civis e prisioneiros de guerra. A famosa "Ordem dos Comissários", que instruía o extermínio de comissários políticos soviéticos, foi executada sob seu comando.
Em janeiro de 1944, após uma série de fortes contraofensivas soviéticas que ameaçavam romper as linhas do Grupo de Exércitos Norte, Küchler solicitou permissão a Hitler para uma retirada tática para posições mais defendáveis. Hitler, que se opunha veementemente a qualquer retirada, recusou o pedido de Küchler. Em vez disso, Hitler o removeu do comando e o substituiu por Walter Model. Este episódio ilustra a crescente disfunção e o microgerenciamento de Hitler, que muitas vezes ignorava o conselho de seus generais mais experientes.
Após seu desligamento, Küchler não recebeu mais nenhum comando importante. Ele foi preso pelos Aliados após o fim da guerra.
Pós-Guerra e Legado
Em 1948, Georg von Küchler foi julgado pelos Aliados no Julgamento do Alto Comando (High Command Trial), parte dos Julgamentos de Nuremberg. Ele foi acusado de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, particularmente relacionados à condução da guerra na Frente Oriental e à implementação de ordens criminosas. Foi condenado a 20 anos de prisão, mas sua sentença foi posteriormente reduzida. Ele foi libertado em 1953 devido a problemas de saúde.
Georg von Küchler faleceu em 25 de maio de 1968, em Garmisch-Partenkirchen, Alemanha Ocidental.
O legado de Georg von Küchler é, como o de muitos comandantes alemães da Segunda Guerra Mundial, controverso. Ele foi um militar competente, com uma carreira distinguida que o levou ao mais alto escalão do exército alemão. Sua capacidade de liderar tropas em campanhas complexas e desafiadoras é inegável. No entanto, sua associação com o regime nazista e sua participação na execução de ordens criminosas na Frente Oriental mancham indelevelmente sua reputação. Ele representa o dilema moral enfrentado por muitos oficiais que, embora não necessariamente ideologicamente alinhados com o nazismo, se tornaram cúmplices de seus crimes através do serviço e da obediência a um regime genocida.