Galieno (253 – 268, coimperador desde 253)

 


O Reinado de Galieno: Um Imperador em Tempos de Crise (253-268 d.C.)

O período de 235 a 284 d.C. é conhecido como a Crise do Terceiro Século, uma das fases mais turbulentas e desafiadoras da história do Império Romano. Durante esse tempo, o império enfrentou invasões bárbaras, colapso econômico, epidemias e uma instabilidade política sem precedentes, com múltiplos imperadores ascendendo e caindo em um curto espaço de tempo. É nesse cenário caótico que surge o imperador Galieno, cujo reinado (253-268 d.C.) é um microcosmo das dificuldades e das tentativas de adaptação que Roma experimentou.

Ascensão ao Poder e Coimperador com Valeriano

Galieno era filho do imperador Valeriano, e foi nomeado coimperador em 253 d.C., um arranjo que visava estabilizar a liderança imperial e permitir que ambos pudessem lidar com as múltiplas ameaças que o império enfrentava em diferentes frentes. Enquanto Valeriano se concentrava na defesa das fronteiras orientais contra o Império Sassânida, Galieno ficou encarregado das províncias ocidentais, lidando com incursões germânicas e a crescente fragmentação do poder imperial.

Desafios e Perdas Territoriais

O reinado de Galieno foi marcado por uma série de reveses. Em 260 d.C., seu pai, Valeriano, foi capturado pelos sassânidas, um evento humilhante e sem precedentes na história romana. Essa perda enfraqueceu ainda mais a já frágil autoridade central e levou à formação de dois impérios separatistas: o Império das Gálias no ocidente (que incluía Gália, Britânia e Hispânia) e o Reino de Palmira no oriente (que controlava boa parte do Levante e do Egito). Galieno, apesar de seus esforços, não conseguiu impedir essa fragmentação, e grande parte de seu reinado foi dedicada a tentar conter essas secessionistas e defender o coração do império.

Reformas Militares e Culturais

Apesar das adversidades, Galieno é notável por algumas reformas significativas. Ele é creditado com a reorganização do exército, afastando os senadores do comando militar e dando maior proeminência a oficiais experientes da ordem equestre. Além disso, ele concentrou as legiões em forças de campo móveis, em vez de espalhá-las pelas fronteiras, uma tentativa de aumentar a capacidade de resposta do império a ameaças rápidas.

No campo cultural, Galieno era um homem culto e patrono das artes e da filosofia. Seu reinado, embora tumultuado, viu um florescimento intelectual em Roma, com o imperador se cercando de filósofos neoplatônicos, como Plotino. Ele também é lembrado por ter, em 260 d.C., emitido um édito de tolerância para os cristãos, suspendendo as perseguições iniciadas por seu pai.

Morte e Legado

Galieno foi assassinado em 268 d.C. por uma conspiração de seus próprios generais, perto de Mediolano (Milão), enquanto tentava suprimir uma rebelião. Sua morte encerrou um reinado conturbado, mas também abriu caminho para uma eventual reunificação do império sob imperadores como Cláudio Gótico e Aureliano.

O legado de Galieno é complexo. Para alguns, ele foi um imperador fraco que assistiu à desinteção do império. Para outros, foi um líder pragmático que, em meio a circunstâncias impossíveis, tentou implementar reformas necessárias para a sobrevivência de Roma. Seu reinado destaca a resiliência e a capacidade de adaptação do Império Romano, mesmo diante de crises que ameaçavam sua própria existência. A Crise do Terceiro Século, da qual Galieno foi uma figura central, demonstrou que o império precisava de uma reestruturação profunda para sobreviver, e as sementes de muitas dessas mudanças foram plantadas, ou pelo menos vislumbradas, durante seu tempo no trono.