Galba (68 – 69) O Imperador Relutante que Reinou com Gota e Espada
Galba: O Imperador Relutante que Reinou com Gota e Espada
Roma, janeiro de 69 d.C. O sangue ainda escorria pelas pedras do fórum quando o corpo esquartejado de Servius Sulpicius Galba foi exibido como um troféu da instabilidade. Seu reinado durou meros sete meses — um lampejo turbulento entre o fim de Nero e o início do chamado “Ano dos Quatro Imperadores”. Mas quem foi esse homem que, aos 70 anos, trocou a segurança da província pela coroa envenenada de Roma?
Da Hispânia ao Trono
Galba nasceu em Terracina, em 3 a.C., numa família que respirava poder: seu avô e pai foram cônsules. Sua carreira foi sólida, marcada por cargos de prestígio — da Gália à África, da Germânia à Hispânia. Mas foi em 68 d.C., quando o império fervia sob a tirania de Nero, que Galba se viu no centro de uma tempestade.
A rebelião começou com Vindex, na Gália, que clamava por um retorno à tradição republicana. Derrotado e morto, Vindex deixou um vácuo que Galba preencheu — não por ambição, mas por sobrevivência. Uma carta falsificada o convenceu de que Nero o condenara. A hesitação deu lugar à ação. Com o apoio de Otão, da Lusitânia, e de outras províncias como a Bética e a Tarraconense, Galba marchou sobre Roma.
O Imperador que Não Sabia Reinar
A aclamação do Senado em junho de 68 parecia o início de uma nova era. Nero estava morto, e Roma ansiava por estabilidade. Mas Galba, embora experiente, não era carismático. Era avarento, doente de gota e, acima de tudo, inflexível. Recusou-se a pagar os subornos prometidos à Guarda Pretoriana. Cortou gastos. Ignorou aliados.
Otão, que esperava ser adotado como sucessor, viu-se traído quando Galba escolheu Calpúrnio Pisão. A tensão crescia. O povo murmurava. As legiões do Reno se revoltavam. E a Guarda Pretoriana, sempre sensível ao tilintar das moedas, virou-se contra ele.
O Fim no Fórum
Em 15 de janeiro de 69, a conspiração de Otão chegou ao clímax. Galba tentou fugir, mas foi interceptado e decapitado. Seu corpo, mutilado, foi arrastado pelas ruas. Três dias depois, Pisão teve o mesmo destino. Otão, com o apoio da Guarda, foi proclamado imperador.
Galba morreu como viveu: estoico, impopular, e vítima de sua própria rigidez. Seu breve reinado foi o prenúncio de um ano sangrento, onde o império trocaria de mãos mais vezes do que jamais imaginara.
Galba não foi o salvador que Roma esperava — mas talvez tenha sido o imperador que ela merecia naquele momento de caos. Um homem velho, cansado e inflexível, tentando restaurar ordem num mundo que já não obedecia a regras.