Franz Halder: Chefe do Estado-Maior do Exército (OKH) no início da guerra.

 

Franz Halder: Chefe do Estado-Maior do Exército (OKH) no Início da Segunda Guerra Mundial

Franz Halder (1884-1972) foi uma figura central no comando do Exército Alemão (Heer) nos anos que antecederam e nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, servindo como Chefe do Estado-Maior do Exército (OKH - Oberkommando des Heeres) de 1938 a 1942. Sua posição o colocou no cerne das decisões estratégicas e operacionais que moldaram as campanhas iniciais da Alemanha, desde a invasão da Polônia até as fases iniciais da Operação Barbarossa. No entanto, sua relação complexa e muitas vezes tensa com Adolf Hitler, bem como suas anotações meticulosas em diários, o tornam um personagem de grande interesse para historiadores militares.

Ascensão e Antecedentes

Nascido em uma família com forte tradição militar bávara, Halder seguiu os passos de seu pai, um general. Sua formação no Estado-Maior Geral Prussiano, um centro de excelência em pensamento militar, moldou sua abordagem à estratégia e tática. Ele serviu com distinção na Primeira Guerra Mundial e, no período entre guerras, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da doutrina e do treinamento do exército alemão, contribuindo para a modernização que culminaria na Blitzkrieg. Sua reputação como um oficial competente, analítico e de princípios o levou à nomeação como Chefe do Estado-Maior do OKH em setembro de 1938, substituindo Ludwig Beck, que havia renunciado em protesto contra os planos agressivos de Hitler em relação à Tchecoslováquia.

O Chefe do Estado-Maior na Guerra

A função de Chefe do Estado-Maior do Exército sob o Terceiro Reich era, por natureza, ambígua e sujeita à crescente interferência de Hitler. O OKH era responsável pelo planejamento e execução das operações no Front Oriental, enquanto o OKW (Oberkommando der Wehrmacht), liderado por Wilhelm Keitel, funcionava como o comando supremo das forças armadas, sob a direta supervisão de Hitler. Essa estrutura de comando, muitas vezes disfuncional e sobreposta, gerava atritos e impedia a clareza nas decisões.

Apesar das limitações impostas por Hitler, Halder teve um papel fundamental no planejamento e na coordenação das primeiras e bem-sucedidas campanhas da Wehrmacht:

  • Polônia (1939): Halder supervisionou o planejamento detalhado da invasão da Polônia, que marcou o início da Segunda Guerra Mundial. A campanha demonstrou a eficácia da Blitzkrieg, com a rápida penetração de forças blindadas e o uso coordenado da aviação.

  • França e Países Baixos (1940): O sucesso surpreendente da campanha no Ocidente, particularmente o plano ousado de Manstein de avançar pelas Ardenas, foi executado sob a supervisão do OKH. Halder, embora inicialmente cético em relação à ousadia do plano, garantiu sua execução.

  • Bálcãs (1941): As campanhas nos Bálcãs, para apoiar a Itália e garantir o flanco sul antes da invasão da União Soviética, também foram coordenadas pelo OKH.

  • Operação Barbarossa (1941): Este foi, sem dúvida, o ponto alto e, ao mesmo tempo, o ponto de virada para Halder. Ele foi o principal arquiteto do plano de invasão da União Soviética, a Operação Barbarossa, acreditando firmemente na doutrina do aniquilamento rápido do exército inimigo. Os sucessos iniciais foram notáveis, com grandes avanços e cercos. No entanto, a vastidão do território, a resiliência soviética, as dificuldades logísticas e, crucialmente, as divergências estratégicas com Hitler, começaram a corroer a confiança e a eficácia do comando.

Conflitos com Hitler e Demissão

A relação de Halder com Hitler foi marcada por uma tensão crescente. Halder, um oficial profissional e meticuloso, muitas vezes se viu em desacordo com as intervenções impulsivas, as ordens irrealistas e o desprezo de Hitler pela doutrina militar estabelecida. Ele valorizava a análise racional e a aderência aos princípios da arte da guerra, enquanto Hitler confiava em seu instinto político e sua crença no poder da vontade.

As principais áreas de conflito incluíram:

  • Objetivos Estratégicos: Halder defendia a concentração de forças para a destruição do Exército Vermelho, enquanto Hitler frequentemente desviava recursos para objetivos econômicos ou políticos, como a tomada de Leningrado ou o Cáucaso, em detrimento do avanço sobre Moscou.

  • Retiradas e Flexibilidade: Halder argumentava pela necessidade de retiradas táticas e flexibilidade operacional para preservar as forças, especialmente diante do inverno russo. Hitler, por outro lado, insistia em "manter cada metro de terreno", o que resultou em perdas catastróficas para o exército alemão.

  • Recursos e Realidade: Halder estava constantemente ciente das limitações logísticas e de recursos do exército, enquanto Hitler frequentemente ignorava esses fatores.

A frustração de Halder com a interferência de Hitler e o que ele via como decisões militares desastrosas cresceu. Em setembro de 1942, após uma série de discussões acaloradas sobre a condução da guerra no Front Oriental, especialmente a campanha de Stalingrado, Halder foi demitido por Hitler, que o acusou de ser "muito pessimista" e de "não ter o espírito ofensivo".

O Diário de Halder e Legado

O diário de guerra de Franz Halder é uma das fontes primárias mais importantes para o estudo das operações militares alemãs no início da Segunda Guerra Mundial. Suas anotações diárias fornecem um relato íntimo das decisões, discussões, frustrações e a crescente paranoia no alto comando alemão. O diário é um testemunho da crescente irracionalidade de Hitler e da impotência dos generais profissionais diante de suas ordens.

Após sua demissão, Halder foi preso em 1944 após a tentativa de assassinato de Hitler, devido a suas conexões anteriores com membros da resistência, embora ele próprio não tenha participado ativamente do complô de 20 de julho. Ele sobreviveu à guerra e testemunhou nos Julgamentos de Nuremberg. Posteriormente, colaborou com historiadores militares americanos, fornecendo insights valiosos sobre o funcionamento do Estado-Maior Alemão.

Franz Halder representa o arquétipo do general profissional alemão, altamente competente em sua arte, mas que se viu em um dilema moral e profissional sob um regime totalitário. Sua história é um lembrete da complexa interação entre a estratégia militar, a política e a personalidade dos líderes em tempos de guerra. Embora sua carreira tenha terminado em desilusão e conflito, sua contribuição para o planejamento das primeiras vitórias da Wehrmacht e o valor de seus diários como registro histórico são inegáveis.