Floriano (276)
Floriano: O Reinado Fugaz de um Imperador Irmão (276 d.C.)
A morte do imperador Tácito em 276 d.C., após um breve e surpreendente reinado, lançou o Império Romano, mais uma vez, em um período de incerteza. Em meio a essa instabilidade, um novo pretendente ao trono emergiu rapidamente, impulsionado pela lealdade familiar e pela tradição militar: Marco Ânio Floriano, meio-irmão do falecido Tácito. Seu reinado, no entanto, seria ainda mais efêmero que o de seu predecessor, durando apenas algumas semanas.
A Ascensão Apelando à Legitimidade Familiar
Floriano era o prefeito pretoriano de Tácito, uma posição de grande poder e influência. Após a morte de seu irmão, as tropas sob seu comando na Ásia Menor, leais à memória de Tácito e talvez convencidas de que Floriano era o sucessor natural, o aclamaram imperador. Essa acção foi um reflexo direto da prática comum da época, onde a aclamação militar era o principal meio de ascensão ao trono durante a Crise do Terceiro Século.
A nomeação de Floriano foi, em grande parte, uma tentativa de manter a continuidade dinástica e aproveitar a legitimidade que Tácito, um imperador escolhido pelo Senado, havia tentado estabelecer. Ele foi reconhecido como imperador pelo Senado Romano em Roma, que provavelmente viu em Floriano a melhor opção para evitar um vácuo de poder prolongado e manter a estabilidade.
O Desafio de Probo e a Queda Rápida
No entanto, o reconhecimento de Floriano não era universal. Quase simultaneamente à sua ascensão, as legiões no leste, especificamente as que guarneciam as províncias da Síria e Egito, proclamaram seu próprio imperador: Marco Aurélio Probo. Probo era um general altamente respeitado, com um histórico de vitórias e uma reputação de grande habilidade militar, tendo servido sob os imperadores Aureliano e Cláudio Gótico. As tropas do leste, cientes das capacidades de Probo, viam nele um líder mais apto a defender o império das constantes ameaças externas.
A disputa entre Floriano e Probo rapidamente se transformou em um confronto inevitável. Floriano marchou com suas forças para a Cilícia, na Ásia Menor, para encontrar Probo. As fontes indicam que Floriano possuía um exército numericamente superior e estava em uma posição vantajosa. No entanto, o clima quente e úmido da região começou a cobrar seu preço nas tropas de Floriano, que eram principalmente de origem ocidental e não estavam acostumadas a tais condições.
Probo, ciente dessa desvantagem ambiental, optou por uma estratégia de guerrilha e atrito, evitando o confronto direto e esperando que o calor e as doenças enfraquecessem o exército de Floriano. Essa tática provou ser eficaz. As tropas de Floriano, desmoralizadas pela doença e pela aparente inatividade de Probo, começaram a questionar a liderança de seu imperador.
Morte e Legado Efêmero
O reinado de Floriano terminou de forma abrupta e violenta. Após cerca de dois a três meses no poder (as fontes variam, mas a maioria concorda em um período muito curto), suas próprias tropas se amotinaram e o assassinaram, provavelmente em Tarso, na Cilícia. A deserção e o assassinato de Floriano pelas suas próprias forças destacam a instabilidade política da época e a prevalência da força militar na determinação da sucessão imperial. A preferência por um líder mais competente em campo de batalha, como Probo, prevaleceu sobre a legitimidade familiar.
O reinado de Floriano é um exemplo clássico da fugacidade do poder durante a Crise do Terceiro Século. Ele representa a última tentativa de uma sucessão baseada em laços familiares e no reconhecimento senatorial imediato, antes que a realidade da necessidade de um imperador militarmente forte e comprovado se impusesse de forma definitiva. Com a sua morte, o caminho estava aberto para Probo, que continuaria o trabalho de Aureliano na restauração da ordem e da prosperidade do Império Romano.