Fedor von Bock (promovido em 1940)
Fedor von Bock – O Comandante Prussiano na Vanguarda da Blitzkrieg
Introdução
Fedor von Bock (1880-1945) foi um dos mais proeminentes marechais de campo da Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial, conhecido pela sua rígida adesão à doutrina militar prussiana e pelo seu papel fundamental nas campanhas iniciais da Alemanha Nazista. Um oficial de carreira com uma longa e distinta trajetória que se estendeu da Primeira Guerra Mundial até as operações mais brutais do Front Oriental, Bock personificou a figura do "soldado honesto" – um comandante leal e disciplinado, mas muitas vezes inflexível e cego para as implicações políticas e morais do regime que servia. Esta monografia explora a vida, a carreira militar, as características de comando e o legado de Fedor von Bock, focando na sua ascensão, no seu desempenho nas campanhas cruciais e nas complexas relações que manteve com o Alto Comando Alemão e, em particular, com Adolf Hitler.
A Formação de um Prussiano: Infância e Carreira Inicial
Moritz Albrecht Franz Friedrich Fedor von Bock nasceu em 3 de dezembro de 1880, em Küstrin, Brandemburgo (hoje Kostrzyn nad Odrą, Polônia). Oriundo de uma família com uma forte tradição militar – seu pai era um general prussiano e sua mãe vinha de uma família de oficiais –, Bock foi imerso desde cedo nos valores do militarismo prussiano: disciplina, dever, lealdade e honra.
Ele seguiu os passos de seus antepassados, ingressando na Academia Militar de Groß-Lichterfelde em 1898 e tornando-se tenente em 1901. Sua ascensão foi constante e marcada por um profissionalismo exemplar. Especializou-se em operações de Estado-Maior, uma área que valorizava o pensamento estratégico e a coordenação de grandes unidades. Durante a Primeira Guerra Mundial, Bock serviu com distinção, primeiro como ajudante de batalhão e depois em várias funções de Estado-Maior em níveis de divisão e corpo de exército. Ele demonstrou coragem e competência tática, sendo condecorado com a cobiçada Pour le Mérite (a mais alta ordem de mérito militar da Prússia) em 1918, um testemunho de seu valor no campo de batalha.
Após a derrota alemã e a formação da República de Weimar, Bock foi um dos poucos oficiais que conseguiu manter sua posição na reduzida Reichswehr. Ele continuou a ascender na hierarquia, demonstrando sua capacidade de adaptação e a confiança que o comando depositava nele. Sua carreira pós-Primeira Guerra o preparou para os desafios que viriam com o rearmamento alemão e o advento da Segunda Guerra Mundial, consolidando sua reputação como um oficial competente e respeitado.
Ascensão na Wehrmacht: A Era Nazi e as Primeiras Vitórias
Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933 e o subsequente rearmamento massivo da Alemanha, a carreira de Fedor von Bock ganhou um novo e rápido impulso. Embora não fosse um apoiador ideológico fervoroso do nazismo, Bock, como muitos oficiais da velha guarda prussiana, via o rearmamento como uma oportunidade para restaurar a glória militar alemã e se mantinha leal ao Estado, independentemente de seu líder político. Ele acreditava firmemente na separação entre política e militares, uma visão que o colocaria em conflito com Hitler mais tarde.
Em 1938, Bock era um dos generais mais antigos e respeitados da Wehrmacht. Ele comandou o 8º Exército durante a Anexação da Áustria (Anschluss), e posteriormente o Grupo de Exércitos 1 durante a ocupação dos Sudetas na Tchecoslováquia. Nestas operações, que foram mais demonstrações de força do que combates, Bock ganhou experiência na coordenação de grandes unidades e na implementação da nova doutrina da Blitzkrieg (guerra relâmpago), que combinava o uso rápido e concentrado de tanques e apoio aéreo para romper as linhas inimigas.
Sua primeira grande prova de fogo na Segunda Guerra Mundial veio com a invasão da Polônia em setembro de 1939. Bock comandou o Grupo de Exércitos Norte, que avançou rapidamente sobre a Polônia a partir da Prússia Oriental e da Pomerânia. Suas forças foram instrumentais para o sucesso da campanha, culminando no cerco de Varsóvia e na rápida derrota polonesa. Seu desempenho na Polônia solidificou sua reputação como um comandante eficaz e um mestre da guerra de movimento.
O ápice de sua ascensão veio na invasão da França e dos Países Baixos em maio de 1940. Bock liderou o Grupo de Exércitos B, que foi encarregado da tarefa crucial de avançar através da Bélgica e dos Países Baixos, atraindo as principais forças Aliadas e criando uma diversão para o avanço principal do Grupo de Exércitos A de Gerd von Rundstedt através das Ardenas. Apesar de seu papel secundário no plano principal da Blitzkrieg (o "Plano Manstein"), as forças de Bock desempenharam um papel vital na distração e no encurralamento das forças Aliadas, contribuindo decisivamente para a rápida e surpreendente vitória alemã. Após esta campanha esmagadora, Fedor von Bock foi promovido a Marechal de Campo em 19 de julho de 1940, um reconhecimento de suas vitórias e de sua posição como um dos principais líderes militares da Alemanha.
Operação Barbarossa: O Desafio do Front Oriental
A nomeação de Fedor von Bock para comandar o Grupo de Exércitos Centro – a maior e mais poderosa das três formações alemãs designadas para a Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética em junho de 1941 – atestava a grande confiança que o Alto Comando depositava em suas habilidades. O objetivo de Bock era avançar pela rota estratégica Moscou, esmagando as forças soviéticas no caminho e capturando a capital.
A campanha começou com um sucesso espetacular. O Grupo de Exércitos Centro de Bock, com suas divisões panzer e de infantaria, irrompeu através das defesas soviéticas, realizando cercos massivos em Bialystok-Minsk e Smolensk, capturando centenas de milhares de prisioneiros e destruindo vastas quantidades de equipamento inimigo. Durante os primeiros meses da campanha, as forças de Bock avançaram centenas de quilômetros, parecendo imparáveis. O estilo de comando de Bock era metódico e determinado; ele exigia disciplina rigorosa e seguia os planos com precisão.
No entanto, à medida que a campanha avançava, surgiram os primeiros sinais de divergência com Hitler e o OKH (Oberkommando des Heeres - Alto Comando do Exército). Bock, como a maioria de seus generais, acreditava que a captura de Moscou deveria ser o objetivo primordial. Ele argumentava que a capital era o centro nervoso do poder soviético, cuja queda poderia desmoralizar o inimigo e, possivelmente, levar ao colapho. Hitler, por sua vez, estava mais interessado em objetivos econômicos – os campos de petróleo do Cáucaso e os recursos agrícolas da Ucrânia – e em destruir o grosso do Exército Vermelho em batalhas de aniquilação mais ao sul. Essa divergência de prioridades levou a tensões crescentes.
Em agosto de 1941, Hitler desviou parte substancial das forças panzer de Bock para apoiar o Grupo de Exércitos Sul na captura de Kiev, atrasando o ataque a Moscou. Embora essa manobra tenha resultado em outra vitória esmagadora alemã em Kiev, ela custou um tempo precioso e a força do avanço principal de Bock. Quando o ataque a Moscou, codinome Operação Tufão, foi finalmente lançado em outubro, as chuvas de outono (o "Rasputitsa") transformaram as estradas em lama intransitável, e o inverno rigoroso, para o qual as tropas alemãs não estavam preparadas, começou a se instalar.
Apesar dos esforços hercúleos de suas tropas, o avanço do Grupo de Exércitos Centro foi paralisado às portas de Moscou. A contraofensiva soviética em dezembro de 1941, combinada com o frio extremo e a exaustão das tropas alemãs, forçou Bock a uma retirada tática não autorizada, que irritou profundamente Hitler. O Führer, que insistia em "manter cada metro de terreno", via qualquer retirada como um sinal de fraqueza. Em 18 de dezembro de 1941, Bock foi relevado do comando do Grupo de Exércitos Centro, oficialmente por motivos de saúde (doença estomacal), mas na verdade por suas divergências táticas com Hitler.
O Retorno Breve e o Legado Final
Após sua demissão em 1941, Fedor von Bock permaneceu na "Reserva do Führer" por alguns meses. No entanto, a necessidade de comandantes experientes forçou Hitler a reconsiderar. Em janeiro de 1942, Bock foi nomeado comandante do Grupo de Exércitos Sul, substituindo Walther von Reichenau, que havia morrido. Nesta posição, ele supervisionou a bem-sucedida Operação Fridericus, que visava aliviar a pressão soviética em Kharkov e preparar o terreno para a ofensiva de verão de 1942.
No entanto, suas velhas tensões com Hitler ressurgiram rapidamente. Durante o planejamento e a execução da Operação Azul (Fall Blau), a grande ofensiva alemã de verão de 1942 em direção aos campos de petróleo do Cáucaso, Bock novamente discordou das decisões de Hitler. O Führer, frustrado com o que via como a lentidão de Bock e suas objeções constantes, dividiu o Grupo de Exércitos Sul em dois (Grupo de Exércitos A e B) e, em 15 de julho de 1942, removeu Bock do comando pela segunda e última vez, substituindo-o por Maximilian von Weichs.
Após sua segunda demissão, Fedor von Bock não recebeu mais nenhum comando. Ele viveu em relativa obscuridade nos últimos anos da guerra, retirado da vida pública. Apesar de suas divergências táticas, Bock permaneceu fundamentalmente leal ao regime, nunca se envolvendo em complôs contra Hitler, como muitos outros oficiais desiludidos. Essa lealdade, que ele via como um dever prussiano, impedia-o de questionar a autoridade do Estado.
Fedor von Bock morreu tragicamente em 4 de maio de 1945, apenas dias antes da rendição incondicional da Alemanha. Seu carro foi metralhado por um avião de caça britânico perto de Oldenburg, enquanto ele tentava alcançar o governo provisório de Karl Dönitz. Ele foi o único marechal de campo alemão a ser morto por ação inimiga direta durante a guerra.
Conclusão
Fedor von Bock foi uma figura paradoxal: um comandante brilhante e disciplinado, imbuído dos valores militares prussianos, mas que se viu em um conflito existencial com a realidade política do regime nazista. Sua rigidez tática e sua lealdade inabalável, que o impediram de se opor ativamente a Hitler, acabaram por limitá-lo. Embora fosse um mestre da guerra de movimento e um dos arquitetos das vitórias iniciais da Blitzkrieg, sua incapacidade de se adaptar à mente caprichosa e errática de Hitler levou à sua eventual marginalização.
O legado de Bock é o de um general que serviu com distinção e profissionalismo em um período de imensa turbulência. Ele era um "soldado honesto" no sentido mais estrito, focado na sua missão militar e, em grande parte, alheio às atrocidades e à ideologia do regime. Sua carreira é um estudo de caso da tensão entre a doutrina militar tradicional e a política totalitária, e um lembrete das complexas escolhas e dilemas enfrentados pelos líderes militares durante um dos períodos mais sombrios da história humana. Fedor von Bock permanece uma figura central para entender a mecânica da Blitzkrieg e os desafios enfrentados pelos comandantes alemães no Front Oriental.