Ewald von Kleist (promovido em 1943)

 

Ewald von Kleist: Um Estudo Abrangente

Introdução

Ewald von Kleist (1881-1954) foi um dos mais proeminentes marechais de campo da Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial. Sua carreira militar abrangeu mais de quatro décadas, testemunhando e participando de alguns dos eventos mais cruciais da história alemã e europeia. Promovido a Generalfeldmarschall em 1943, Kleist é lembrado por seu papel significativo na Blitzkrieg, nas campanhas do Leste e no comando de grandes formações panzer. Esta monografia busca oferecer um estudo abrangente de sua vida, carreira militar, contribuições estratégicas e táticas, e o legado complexo que deixou.

Primeiros Anos e Início da Carreira Militar

Paul Ludwig Ewald von Kleist nasceu em 8 de agosto de 1881, em Braunfels, no Império Alemão. Proveniente de uma antiga família aristocrática prussiana com uma longa tradição militar, Kleist seguiu os passos de seus antepassados. Ingressou no exército em 1900, servindo como cadete no regimento de artilharia de campo. Sua formação inicial foi marcada por uma sólida instrução em tática e estratégia, preparando-o para os desafios futuros.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Kleist serviu em várias funções de estado-maior e de comando em unidades de artilharia, demonstrando competência e liderança. A experiência nos campos de batalha da Grande Guerra, com suas trincheiras e guerra de atrito, moldou sua compreensão sobre a importância da mobilidade e da concentração de fogo, lições que seriam cruciais em sua carreira posterior. Ao final da guerra, Kleist havia alcançado a patente de capitão e foi condecorado por sua bravura.

O Período entre Guerras e a Ascensão no Reichswehr

Após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e o subsequente Tratado de Versalhes, o exército alemão foi drasticamente reduzido. Kleist permaneceu no Reichswehr, o pequeno exército permitido à República de Weimar. Durante esse período, ele continuou a progredir em sua carreira, ocupando cargos de comando e estado-maior que lhe permitiram aprofundar seus conhecimentos em organização militar e estratégia.

Com a ascensão de Adolf Hitler e o regime nazista em 1933, e o subsequente rearmamento da Alemanha, Kleist viu sua carreira ganhar novo ímpeto. Ele foi um defensor da modernização do exército e da doutrina de guerra móvel, que viria a ser conhecida como "Blitzkrieg". Embora não fosse um entusiasta do nazismo, Kleist, como muitos outros oficiais da velha guarda prussiana, via o rearmamento como uma oportunidade para restaurar o prestígio militar alemão. Em 1938, foi promovido a General de Cavalaria e recebeu o comando de um corpo de exército.

A Segunda Guerra Mundial: As Campanhas Iniciais

Campanha da Polônia (1939)

Ewald von Kleist desempenhou um papel crucial na Campanha da Polônia, que marcou o início da Segunda Guerra Mundial. No comando do XXII Corpo de Exército (Motorizado), parte do Grupo de Exércitos Sul de Gerd von Rundstedt, suas unidades blindadas e motorizadas foram fundamentais para a rápida penetração das linhas polonesas e o envolvimento das forças inimigas. A campanha polonesa foi um teste bem-sucedido dos princípios da Blitzkrieg, nos quais a velocidade e a coordenação entre tanques, infantaria motorizada e apoio aéreo eram essenciais.

Batalha da França (1940)

O papel de Kleist foi ainda mais proeminente na Batalha da França em 1940. Ele comandou o Panzergruppe Kleist, uma das formações blindadas mais poderosas da Wehrmacht. Este grupo, composto por vários corpos panzer, foi a ponta de lança do ataque através das Ardenas, uma área considerada impenetrável pelos Aliados. A audaciosa travessia e o subsequente avanço rápido até o Canal da Mancha, cortando as forças Aliadas e cercando-as em Dunquerque, foram um testemunho da eficácia da doutrina de Blitzkrieg e da liderança de Kleist. Sua habilidade em coordenar grandes formações blindadas em um terreno difícil e sob forte resistência inimiga solidificou sua reputação como um dos principais comandantes de tanques da Alemanha.

Campanha dos Bálcãs (1941)

Em 1941, Kleist liderou o Panzergruppe Kleist na invasão da Iugoslávia e da Grécia. Nestas campanhas, suas forças enfrentaram terrenos montanhosos e defesas bem entrincheiradas, provando que a Blitzkrieg podia ser eficaz mesmo em condições menos ideais. A rápida subjugação dos Bálcãs garantiu o flanco sul da Alemanha antes da iminente invasão da União Soviética.

Operação Barbarossa e a Frente Oriental

Invasão da União Soviética (1941)

A Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética em junho de 1941, representou o maior desafio para Kleist e a Wehrmacht. No comando do 1º Exército Panzer, parte do Grupo de Exércitos Sul, ele liderou o avanço para o leste, enfrentando vastas distâncias, terreno difícil e uma resistência soviética que, embora inicial e desorganizada, era formidável. O 1º Exército Panzer de Kleist esteve envolvido em grandes batalhas de cerco, como Uman e Kiev, infligindo pesadas perdas ao Exército Vermelho. No entanto, o inverno russo, a logística esticada e a crescente resiliência soviética começaram a cobrar seu preço.

A Longa Guerra de Atrito (1942-1943)

Em 1942, Kleist foi nomeado Comandante-em-Chefe do Grupo de Exércitos A, responsável pelas operações no Cáucaso e na região do Don. Seu objetivo era capturar os campos de petróleo do Cáucaso, vitais para o esforço de guerra alemão. A campanha no Cáucaso foi um esforço gigantesco, mas as forças alemãs foram esticadas demais e a resistência soviética se intensificou.

Foi durante este período, em 1943, que Ewald von Kleist foi promovido a Generalfeldmarschall (Marechal de Campo), em reconhecimento à sua longa e distinta carreira e seus sucessos no campo de batalha. No entanto, a maré da guerra estava virando. O cerco e a subsequente destruição do 6º Exército em Stalingrado, embora não diretamente sob seu comando, tiveram um impacto devastador na frente oriental e em sua estratégia geral.

A Batalha de Kursk e o Recuo (1943-1944)

Kleist continuou a comandar o Grupo de Exércitos A durante a Batalha de Kursk em julho de 1943, a maior batalha de tanques da história. Embora seu grupo de exércitos não tenha tido um papel central no ataque principal em Kursk, ele estava envolvido em operações defensivas e contra-ofensivas subsequentes no sul da Rússia.

À medida que a pressão soviética aumentava, Kleist se viu cada vez mais engajado em operações defensivas e retiradas estratégicas. Ele frequentemente entrou em conflito com Hitler sobre questões táticas e estratégicas, defendendo retiradas para encurtar as linhas e preservar suas forças, enquanto Hitler insistia em uma defesa intransigente. Essas divergências se tornaram mais acentuadas à medida que a situação alemã na frente oriental se deteriorava.

Demissão e Pós-Guerra

Em março de 1944, após uma série de derrotas e mais atritos com Hitler sobre a estratégia na Ucrânia, Ewald von Kleist foi finalmente demitido de seu comando. Ele foi colocado na reserva, efetivamente encerrando sua carreira militar ativa. Como muitos outros oficiais da antiga guarda, Kleist havia se tornado uma figura que, embora respeitada por sua competência, era vista por Hitler como relutante em seguir suas ordens irrealistas.

Após a capitulação alemã em 1945, Kleist foi preso pelas forças Aliadas. Ele foi subsequentemente entregue à Iugoslávia e depois à União Soviética, onde foi acusado de crimes de guerra, incluindo seu envolvimento em atrocidades e o genocídio de civis e prisioneiros de guerra. Embora sua responsabilidade direta por crimes específicos seja um tema de debate histórico, como comandante de grandes formações no leste, ele operou em um ambiente onde tais crimes eram sistemáticos. Ewald von Kleist foi condenado por um tribunal soviético e morreu em cativeiro em 13 de novembro de 1954, na prisão de Vladimir, na União Soviética.

Legado e Análise Crítica

O legado de Ewald von Kleist é complexo e multifacetado. Ele é inegavelmente reconhecido como um dos mais talentosos comandantes de campo da Wehrmacht, um mestre da guerra móvel e um executivo brilhante da Blitzkrieg. Suas campanhas na Polônia, França e Bálcãs são estudadas como exemplos clássicos de manobra e velocidade. Na Frente Oriental, ele demonstrou resiliência e habilidade em liderar grandes formações sob condições extremamente adversas.

No entanto, sua associação com o regime nazista e sua participação na guerra de extermínio no leste mancham sua reputação. Embora não fosse um ideólogo nazista, Kleist, como tantos outros oficiais, serviu lealmente a um regime criminoso. A questão de até que ponto ele estava ciente ou envolvido em atrocidades continua sendo um ponto de discussão entre historiadores. Sua morte em cativeiro soviético, acusado de crimes de guerra, sublinha a tragédia de sua vida e a complexidade moral de sua época.