Erwin von Witzleben (promovido em 1940)
Erwin von Witzleben: Um Monarca Esquecido da Resistência Alemã
Erwin von Witzleben, promovido a Generalfeldmarschall em 1940, é uma figura complexa e trágica na história militar alemã do século XX. Embora seja lembrado por sua participação no atentado de 20 de julho de 1944 contra Adolf Hitler, sua carreira e seu papel na resistência alemã são muitas vezes ofuscados por outros nomes mais proeminentes. Esta monografia busca oferecer um panorama o mais completo possível da vida e trajetória de von Witzleben, desde sua formação militar até seu sacrifício final.
Primeiros Anos e Carreira Militar Precoce
Erwin von Witzleben nasceu em 4 de dezembro de 1881, em Breslávia, então parte do Império Alemão (hoje Wrocław, Polônia). Oriundo de uma antiga família nobre prussiana com forte tradição militar, era quase inevitável que seguisse os passos de seus antepassados. Ingressou no Exército Imperial Alemão em 1901, servindo inicialmente no 7º Regimento de Granadeiros. Sua formação foi sólida e ele demonstrou aptidão para a carreira militar desde cedo.
Participou da Primeira Guerra Mundial, onde serviu em diversas frentes e se destacou por sua bravura e competência tática. Foi condecorado com a Cruz de Ferro de Primeira e Segunda Classe, um testemunho de seu desempenho em combate. Ao final da guerra, Witzleben havia alcançado a patente de capitão, e sua experiência no conflito moldou sua visão sobre a guerra e o papel do oficial.
Com a desmobilização do exército após o Tratado de Versalhes, von Witzleben permaneceu nas forças armadas reduzidas da República de Weimar, a Reichswehr. Continuou sua ascensão na hierarquia militar, ocupando diversos cargos de comando e estado-maior. Sua reputação como um oficial competente, disciplinado e com princípios era amplamente reconhecida.
Ascensão no Terceiro Reich e Primeiros Confrontos com o Regime
A chegada de Adolf Hitler ao poder em 1933 e a subsequente transformação da Reichswehr na Wehrmacht apresentaram um novo cenário para oficiais como von Witzleben. Inicialmente, muitos militares, incluindo ele, viram com bons olhos o rearmamento e a restauração do prestígio militar alemão. Witzleben foi promovido a Generalmajor em 1934 e a Generalleutnant em 1936. Em 1938, ele assumiu o comando do Grupo de Exércitos 2 em Frankfurt am Main, uma posição de grande responsabilidade.
No entanto, à medida que o regime nazista revelava sua verdadeira face e suas ambições expansionistas, von Witzleben, um homem de valores tradicionais e conservadores, começou a sentir-se cada vez mais desconfortável. Ele desaprovava abertamente a perseguição aos judeus, a repressão política e a ideologia extremista do Partido Nazista.
Foi durante este período que von Witzleben começou a estabelecer contatos com círculos de oposição dentro do exército. Ele era um dos poucos generais que se opuseram publicamente ao afastamento do Generaloberst Werner von Fritsch em 1938, uma jogada de Hitler para consolidar seu controle sobre as forças armadas. Essa atitude demonstrou sua coragem e sua recusa em comprometer seus princípios.
Papel na Guerra e a Conspiração contra Hitler
Com o início da Segunda Guerra Mundial, a carreira militar de von Witzleben atingiu seu ápice. Durante a Campanha da Polônia em 1939, ele comandou o 1º Exército. Sua participação na Batalha da França em 1940 foi decisiva, liderando o 1º Exército na ruptura da Linha Maginot, o que lhe valeu a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro. Após essa vitória retumbante, em 19 de julho de 1940, Erwin von Witzleben foi promovido a Generalfeldmarschall, a mais alta patente no exército alemão.
Apesar de suas conquistas militares e do reconhecimento, a repulsa de von Witzleben ao regime nazista só aumentava. Ele estava profundamente perturbado pelas atrocidades cometidas pela Wehrmacht no leste e pela política de extermínio do regime. Sua posição de destaque, paradoxalmente, oferecia-lhe uma plataforma para se conectar com outros oficiais e civis que também desejavam derrubar Hitler.
Von Witzleben tornou-se uma figura central na resistência militar alemã. Ele via a necessidade urgente de remover Hitler do poder para evitar a completa destruição da Alemanha. Seus contatos incluíam figuras como Ludwig Beck, Henning von Tresckow e Claus Schenk Graf von Stauffenberg. Ele participou ativamente dos planejamentos de vários golpes, incluindo o chamado "Putsch de 1938" (que não se concretizou) e, mais proeminentemente, a Operação Valquíria.
Como o mais graduado general envolvido na conspiração, Witzleben estava destinado a ser o comandante-em-chefe das forças armadas após o golpe. Ele seria responsável por assumir o controle de Berlim e garantir a transição de poder.
O 20 de Julho de 1944 e o Sacrifício Final
Em 20 de julho de 1944, a Operação Valquíria foi colocada em prática. Stauffenberg plantou uma bomba na Toca do Lobo, o quartel-general de Hitler. No entanto, o plano falhou em seu objetivo principal: Hitler sobreviveu à explosão.
Ao tomar conhecimento do fracasso, von Witzleben, que havia chegado ao Bendlerblock (quartel-general do Exército em Berlim) para assumir o comando, percebeu que a missão havia sido comprometida. De acordo com relatos, ele teria se recusado a seguir em frente com o golpe, dizendo "Essa é a gota d'água" ou algo semelhante, ciente de que a tentativa de golpe seria brutalmente reprimida. Ele foi rapidamente preso no mesmo dia.
A consequência do atentado foi uma caçada implacável aos conspiradores. Erwin von Witzleben foi submetido a um julgamento sumário perante o infame Volksgerichtshof (Tribunal do Povo), presidido por Roland Freisler. O julgamento foi uma farsa, um espetáculo teatral destinado a humilhar e condenar os réus. Witzleben, já idoso e doente, foi ridicularizado e submetido a tortura psicológica.
Em 8 de agosto de 1944, Erwin von Witzleben foi condenado à morte por traição. A sentença foi executada no mesmo dia, por enforcamento, na prisão de Plötzensee, em Berlim. A forma da execução foi deliberadamente brutal e humilhante, filmada para propaganda nazista.
Legado e Considerações Finais
Erwin von Witzleben é uma figura emblemática da resistência alemã ao nazismo. Sua trajetória de vida reflete a luta interna de muitos militares alemães que, leais ao seu país, viram-se diante de um regime criminoso que os obrigou a confrontar seus próprios valores.
Sua promoção a Generalfeldmarschall em 1940 marcou o ápice de sua carreira militar, mas foi sua participação na conspiração de 20 de julho que o imortalizou na história. Ao contrário de alguns que colaboraram com o regime ou permaneceram em silêncio, von Witzleben escolheu o caminho perigoso da oposição ativa. Seu sacrifício, junto com o de tantos outros, demonstrou que nem todos na Alemanha aceitaram passivamente a barbárie nazista.
Witzleben não foi um revolucionário no sentido político, mas um militar conservador que agiu por convicção moral e dever patriótico. Ele acreditava que a derrubada de Hitler era essencial para salvar a honra da Alemanha e evitar uma catástrofe ainda maior.
Hoje, Erwin von Witzleben é lembrado como um mártir e um herói da resistência alemã. Sua história serve como um lembrete da importância da consciência individual e da coragem moral diante da tirania, mesmo quando as chances de sucesso são mínimas e o custo é a própria vida. Sua memória contribui para desmistificar a imagem de uma Alemanha monolítica sob o nazismo, revelando as vozes e ações daqueles que se opuseram.