Erich von Manstein: O Estrategista Brilhante da Wehrmacht

 

Erich von Manstein: O Estrategista Brilhante sob a Sombra da Wehrmacht

Erich von Manstein, nascido Fritz Erich Georg Eduard von Lewinski e adotado por seu tio, general Georg von Manstein, é uma figura que se impõe na galeria dos maiores estrategistas militares da Segunda Guerra Mundial. Sua mente tática, afiada e inovadora, desdobrou-se em sucessos notáveis, desde as florestas das Ardenas até as vastidões geladas da Frente Oriental. No entanto, o brilho de seu gênio militar jamais poderá ofuscar a sombra de seu serviço a um regime criminoso, tornando sua trajetória um objeto de fascínio e de intensa controvérsia.

Das Raízes Prussas ao Estudo da Guerra Moderna

Manstein trazia em seu sangue a tradição militar prussiana. Nascido em 1887, ingressou no exército em 1906, forjando sua experiência na Primeira Guerra Mundial, onde rapidamente ascendeu a capitão. No período entre guerras, sua inteligência aguçada e sua capacidade analítica o destacaram na Reichswehr. Foi nessa época que ele mergulhou no estudo da guerra de movimento, a Blitzkrieg, doutrina que ele ajudaria a moldar e que se tornaria a marca registrada da Wehrmacht no início da Segunda Guerra Mundial. Sua ascensão no Estado-Maior alemão foi meteórica, pavimentada por sua reputação de oficial talentoso e inovador.

O "Corte de Foice": A Estratégia que Redefiniu a Guerra

O nome de Manstein ressoa com especial força na Batalha da França em 1940. O plano inicial alemão, o "Plano Amarelo", era uma variação do obsoleto Plano Schlieffen da Grande Guerra. Contudo, Manstein, então chefe de gabinete do General Gerd von Rundstedt, ousou desafiar o Alto Comando, propondo uma ideia radical: o "Plano Sichelschnitt" (Corte de Foice) ou, como ficou conhecido, o "Plano Manstein".

Sua audaciosa proposta consistia em desferir o golpe principal através das Ardenas, uma região que muitos consideravam intransponível para grandes formações blindadas. O objetivo? Contornar a imponente Linha Maginot, fixar as principais forças aliadas na Bélgica e, após a travessia surpresa pelas Ardenas, realizar um movimento de pinça decisivo em direção ao Canal da Mancha, encurralando e aniquilando as forças aliadas no norte da França e na Bélgica. Apesar da resistência inicial, Manstein conseguiu apresentar seu plano diretamente a Hitler, que, impressionado com a audácia e a lógica da manobra, o aprovou. O sucesso avassalador da Blitzkrieg na França em 1940, com a rápida queda do país em poucas semanas, não só validou a genialidade do Plano Manstein, mas também solidificou sua reputação como um dos mais brilhantes cérebros estratégicos da Alemanha.

Os Desafios e Triunfos no Front Oriental

Após a consagração na França, Manstein foi promovido e desempenhou um papel crucial na Frente Oriental durante a Operação Barbarossa em 1941. No comando do LVI Corpo Panzer, ele participou dos avanços rápidos e profundos que caracterizaram as fases iniciais da invasão, responsável por cercos e destruições de grandes formações soviéticas.

Em setembro de 1941, Manstein assumiu o comando do 11º Exército, encarregado da conquista da Crimeia e do estratégico porto naval de Sebastopol. A campanha na Crimeia foi uma demonstração de sua capacidade de conduzir operações complexas em terrenos desafiadores. O cerco a Sebastopol, em particular, durou mais de 250 dias, exigindo o emprego de artilharia pesada e táticas meticulosas. A tomada de Sebastopol em julho de 1942 foi uma vitória significativa para a Wehrmacht, rendendo-lhe a promoção a Marechal de Campo.

No entanto, a Frente Oriental era um teatro de guerra de uma escala e brutalidade sem precedentes. Após a derrota alemã em Stalingrado, Manstein foi nomeado comandante do Grupo de Exércitos Don (posteriormente Grupo de Exércitos Sul), encarregado de estabilizar a frente sul e tentar resgatar o 6º Exército cercado em Stalingrado. A Operação Winter Storm (Tempestade de Inverno), lançada por Manstein em dezembro de 1942 para socorrer o 6º Exército, foi um feito notável de planejamento e execução, mas infelizmente não conseguiu romper as defesas soviéticas a tempo. Apesar do fracasso em Stalingrado, Manstein conseguiu organizar uma retirada ordenada e contra-atacar os soviéticos em Kharkov (Terceira Batalha de Kharkov) em março de 1943, infligindo-lhes pesadas perdas e restaurando temporariamente a estabilidade na frente sul. Essa contraofensiva é considerada um dos seus maiores feitos defensivos e ofensivos, demonstrando sua flexibilidade e adaptabilidade em situações desesperadoras.

Posteriormente, Manstein participou da Batalha de Kursk em julho de 1943, a maior batalha de tanques da história. Embora os alemães tenham sido derrotados, Manstein argumentou a favor de uma estratégia mais flexível, focada em contra-ataques e exploração de pontos fracos soviéticos, em vez de um ataque frontal massivo. Suas opiniões, frequentemente em desacordo com as de Hitler, começaram a gerar um atrito irreconciliável.

A Queda de um Marechal: Desavenças com o Führer

As tensões entre Manstein e Hitler eram crescentes e inevitáveis. Manstein era conhecido por sua franqueza e sua insistência em relatórios militares realistas, mesmo que fossem impopulares. Ele frequentemente desafiava as ordens de Hitler quando as considerava taticamente insensatas ou estrategicamente inviáveis. Enquanto Hitler se apegava à ideia de "manter a posição a todo custo", Manstein defendia uma guerra de manobra, com recuos estratégicos e contra-ataques para preservar as forças alemãs.

Essa divergência fundamental na estratégia, combinada com a diminuição das chances de vitória alemã, levou à sua demissão por Hitler em março de 1944. Hitler, cada vez mais paranoico e isolado, não tolerava a dissidência, mesmo de seus generais mais capazes. A saída de Manstein do comando foi um golpe significativo para o esforço de guerra alemão na Frente Oriental, que já estava em uma posição precária.

O Legado Complexo: Gênio Militar e Controvérsia

Após a rendição da Alemanha em 1945, Erich von Manstein foi preso pelos Aliados e julgado por crimes de guerra em 1949 em Hamburgo. Acusado de negligência em relação aos crimes cometidos por suas tropas na Frente Oriental e de cumplicidade em ações criminosas contra judeus e civis, ele foi condenado a 18 anos de prisão, embora tenha sido libertado em 1953 por problemas de saúde.

Após sua libertação, atuou como consultor para o renascimento das forças armadas da Alemanha Ocidental e escreveu suas memórias, "Verlorene Siege" (Vitórias Perdidas), publicadas em 1955. Nessas memórias, Manstein apresenta uma análise detalhada das campanhas em que esteve envolvido, frequentemente atribuindo as derrotas alemãs à interferência de Hitler e à falta de recursos.

O legado de Erich von Manstein é inegavelmente complexo. Por um lado, ele é universalmente reconhecido como um dos maiores gênios militares do século XX, um mestre da guerra de manobra e um estrategista brilhante cujas concepções táticas foram decisivas em momentos críticos. Sua contribuição para a doutrina da Blitzkrieg e seu papel na Batalha da França são inegáveis. Por outro lado, sua associação com o regime nazista e as acusações de crimes de guerra lançam uma sombra inescapável sobre sua reputação. A questão de até que ponto ele era cúmplice dos crimes nazistas, ou simplesmente um soldado cumprindo seu dever em um regime ditatorial, continua a ser debatida por historiadores.

Independentemente das controvérsias, o estudo das campanhas de Manstein continua a ser fundamental para qualquer análise séria da Segunda Guerra Mundial e da estratégia militar. Ele representa um exemplo notável de brilhantismo tático e operacional, inserido em um contexto histórico moralmente complexo e trágico.


Por Albino Monteiro