Erhard Milch (promovido em 1940)
Erhard Milch: O Marechal de Campo da Luftwaffe e a Engrenagem da Máquina de Guerra Nazi
Erhard Milch, promovido a Generalfeldmarschall em 1940, foi uma figura central na ascensão e queda da Luftwaffe, a força aérea alemã, durante a Segunda Guerra Mundial. Sua carreira, marcada por uma mistura de talento organizacional e cumplicidade com os crimes nazistas, oferece uma visão complexa da liderança militar no Terceiro Reich. Esta monografia explorará a trajetória de Milch, desde seus primórdios na aviação até seu papel nos julgamentos de Nuremberga e o legado que deixou.
Início da Vida e Carreira na Aviação
Erhard Milch nasceu em Wilhelmshaven, Império Alemão, em 30 de março de 1892. Sua paixão pela aviação manifestou-se cedo, e ele serviu como piloto na Luftstreitkräfte (Força Aérea Imperial Alemã) durante a Primeira Guerra Mundial. Após o conflito, com as restrições impostas à aviação militar alemã pelo Tratado de Versalhes, Milch direcionou seus talentos para a indústria da aviação civil. Ele desempenhou um papel crucial na construção da Lufthansa, a principal companhia aérea alemã, demonstrando uma notável capacidade administrativa e de planejamento.
Ascensão na Luftwaffe
Com a ascensão do Partido Nazi ao poder em 1933 e o rearmamento secreto da Alemanha, Milch foi recrutado para ajudar a construir a nova força aérea, a Luftwaffe. Apesar de ter ascendência judaica — um fato que foi convenientemente ignorado por Hermann Göring, o chefe da Luftwaffe, devido à sua indispensabilidade —, Milch rapidamente se tornou uma figura de confiança.
De maio de 1933 a junho de 1944, Milch serviu como Secretário de Estado no Ministério da Aviação do Reich. Sua influência era imensa; ele era essencialmente o responsável por toda a produção e suprimento de aeronaves. A partir de fevereiro de 1939 a janeiro de 1945, ocupou também o cargo de Inspetor-Geral da Luftwaffe.
Sua promoção a Generalfeldmarschall (Marechal de Campo) em 1940 foi um reconhecimento de seu papel vital na expansão e modernização da Luftwaffe, que se tornou uma das forças aéreas mais poderosas do mundo no início da Segunda Guerra Mundial. Milch foi fundamental na organização da produção em massa de aeronaves, na logística e no desenvolvimento de novas tecnologias que impulsionaram a capacidade de guerra aérea alemã. Ele foi condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro em 4 de maio de 1940.
O Papel de Milch na Segunda Guerra Mundial
Durante a maior parte da Segunda Guerra Mundial, Milch supervisionou a produção e o fornecimento de aeronaves para a Luftwaffe. Sua responsabilidade estendia-se a garantir que as fábricas de aviões operassem com máxima eficiência, mesmo em condições de guerra. Isso, no entanto, veio com um custo humano terrível. Para manter a produção, Milch foi um dos principais arquitetos da exploração de mão de obra forçada. Milhões de civis de territórios ocupados e prisioneiros de guerra foram submetidos a trabalho escravo em condições desumanas nas fábricas alemãs, incluindo aquelas sob a supervisão da Luftwaffe.
O Julgamento de Nuremberga e a Condenação
Após o fim da guerra, Erhard Milch foi capturado e subsequentemente julgado pelos Tribunais Militares dos EUA em Nuremberga, no que ficou conhecido como o "Processo Milch" (Case #2 of the Subsequent Nuremberg Proceedings). O julgamento ocorreu de 2 de janeiro a 17 de abril de 1947.
As acusações contra Milch eram graves e divididas em três pontos principais:
Crimes de Guerra: Abuso de civis de territórios ocupados e prisioneiros de guerra usados como trabalhadores escravos.
Crimes de Guerra: Experiências médicas ilegais (de alta altitude e congelamento) em prisioneiros de campos de concentração, resultando em muitas mortes.
Crimes contra a Humanidade: Mão de obra escrava e experimentos médicos em cidadãos alemães e de outras nacionalidades.
Milch foi declarado culpado das acusações relacionadas a crimes de guerra e crimes contra a humanidade, especificamente pelo uso generalizado de trabalho escravo para a Luftwaffe. No entanto, foi absolvido da acusação de participação em experimentos médicos. Em 17 de abril de 1947, foi condenado à prisão perpétua.
Sua sentença foi posteriormente comutada para 15 anos de prisão em 1951 pelo Alto Comissário dos EUA para a Alemanha, John J. McCloy. Erhard Milch foi libertado condicionalmente em junho de 1954 e viveu o resto de sua vida em Wuppertal, Alemanha Ocidental, falecendo em 25 de janeiro de 1972, aos 79 anos. Ele foi o último Generalfeldmarschall vivo da Luftwaffe.
Legado Histórico
O legado de Erhard Milch é controverso. Por um lado, ele foi um administrador talentoso e um inovador na aviação, desempenhando um papel inegável na construção de uma força aérea formidável. Por outro lado, sua ambição e lealdade ao regime nazista o levaram a se tornar cúmplice de atrocidades maciças, especialmente através da exploração de milhões de trabalhadores escravos. Sua figura representa a complexidade moral dos indivíduos que, embora não fossem ideólogos nazistas em sua essência, contribuíram de forma decisiva para a máquina de guerra e a implementação das políticas criminosas do Terceiro Reich. Sua história serve como um lembrete sombrio dos perigos de se colocar a eficiência e o pragmatismo acima da moralidade e da dignidade humana.