Constante I (337 – 350) O Último Imperador Romano do Ocidente Pré-Magnêncio

 


Constante I: O Último Imperador Romano do Ocidente Pré-Magnêncio

Entre a Cruz e a Espada: A Breve e Intensa Saga de Constante I

No turbilhão político e religioso do século IV, um jovem imperador romano tentou manter o equilíbrio entre fé, poder e sobrevivência. Flávio Júlio Constante, mais conhecido como Constante I, reinou de 337 a 350 d.C., assumindo o controle da porção ocidental do Império Romano após a morte de seu pai, Constantino, o Grande. Embora seu nome raramente figure entre os mais célebres da história romana, sua trajetória é um retrato fascinante das tensões que marcaram o fim da unidade imperial e o nascimento de um novo mundo cristão.

Ascensão de um Herdeiro Imperial

Nascido por volta de 320 d.C., Constante era o filho mais novo de Constantino I e Fausta. Em 25 de dezembro de 333, ainda adolescente, foi proclamado César por seu pai — um gesto que selava seu destino imperial. Com a morte de Constantino em 337, o império foi dividido entre seus três filhos:

  • Constante ficou com a Itália, Ilíria e África;
  • Constantino II herdou a Gália, Hispânia e Britânia;
  • Constâncio II assumiu o Oriente.

Mas a partilha não trouxe paz. Em 340, Constantino II, insatisfeito com sua parte, invadiu a Itália. Constante reagiu com firmeza e o derrotou em Aquileia, consolidando seu domínio sobre todo o Ocidente.

Campanhas e Conquistas

Apesar de jovem, Constante demonstrou habilidade militar. Entre 337 e 338, venceu os sármatas e, entre 341 e 342, conduziu uma campanha bem-sucedida contra os francos. Em 343, atravessou o Canal da Mancha para visitar a Britânia — uma viagem rara para um imperador romano — provavelmente em resposta a uma crise militar.

O Imperador da Ortodoxia

Constante foi um defensor fervoroso do cristianismo ortodoxo, em oposição ao arianismo promovido por seu irmão Constâncio II. Em 343, convocou o Concílio de Sárdica, apoiando Atanásio de Alexandria, símbolo da resistência ortodoxa. Suas medidas religiosas foram ousadas:

  • Proibiu os sacrifícios pagãos em 341;
  • Reprimiu o donatismo na África com mão de ferro e incentivos financeiros.

Curiosamente, apesar de sua ortodoxia, manteve figuras pagãs em cargos de destaque, como o prefeito Fábio Ticiano — um sinal de pragmatismo político ou de tolerância estratégica?

Contradições e Controvérsias

Nos primeiros anos, Constante governou com energia e eficácia. Mas, com o tempo, surgiram acusações de desgoverno, favoritismo e até escândalos pessoais. Fontes posteriores, muitas vezes influenciadas por seus inimigos, o acusaram de comportamento escandaloso e homossexualidade — acusações que, mais do que revelações, refletem as tensões morais e políticas da época.

A Queda de um Imperador

Em 350, o general Magnêncio foi proclamado imperador pelas tropas na Gália. Constante, isolado e sem apoio militar, fugiu. Foi capturado em Elne, nos Pirenéus, e executado. Com sua morte, encerrava-se a dinastia constantiniana no Ocidente e abria-se um novo capítulo de instabilidade e guerras civis.

Legado de Um Império em Transição

Constante I foi um imperador de contrastes: jovem e vigoroso, ortodoxo e pragmático, vitorioso e vulnerável. Sua trajetória revela as fragilidades do sistema de co-imperadores e antecipa o colapso da unidade romana. Mais do que um nome esquecido nos livros de história, Constante foi um protagonista do crepúsculo imperial — um tempo em que a cruz começava a substituir o gládio como símbolo do poder romano.

Por Albino Monteiro