Carino (283 – 285)

 


Imperador Carino (283–285): Entre o Poder e a Controvérsia

Introdução

O imperador Marco Aurélio Carino governou o Império Romano durante um dos períodos mais turbulentos da história imperial: a Crise do Século III. Filho do imperador Caro e irmão de Numeriano, Carino ascendeu ao trono em um contexto de instabilidade política, militar e social. Sua breve administração foi marcada por campanhas militares, disputas internas e uma reputação controversa, que os registros históricos posteriores ajudaram a moldar — ora como um governante decadente, ora como um líder militar eficaz.

Contexto Histórico

O século III foi um período de profunda crise no Império Romano, com sucessivas usurpações, guerras civis e ameaças externas.

Caro, pai de Carino, tornou-se imperador em 282 e nomeou seus filhos Carino e Numeriano como césares, preparando uma sucessão dinástica.

Enquanto Caro e Numeriano partiram para uma campanha contra o Império Sassânida, Carino permaneceu em Roma, administrando o Ocidente.

Ascensão ao Poder

  • Em 283, após as vitórias de Caro no Oriente, Carino foi elevado ao título de "augusto", tornando-se coimperador.

  • Com a morte de Caro (provavelmente fulminado por um raio, segundo fontes), Carino assumiu o controle do Ocidente, enquanto Numeriano governava o Oriente.

  • A morte misteriosa de Numeriano em 284 levou à ascensão de Diocleciano, que foi proclamado imperador pelas tropas orientais2.

Governo e Administração

  • 🏛️ Carino governou a parte ocidental do império, enfrentando revoltas internas e desafios de legitimidade.

  • 🪙 Moedas cunhadas durante seu reinado exaltavam sua imagem como defensor da paz, da família imperial e da ordem militar3.

  • 📜 Segundo a análise de Diogo Pereira da Silva, Carino utilizou o “transcrito público” — símbolos, cerimônias e moedas — para legitimar seu poder e reforçar sua autoridade imperial.

Conflitos e Queda

  • Em 285, Carino derrotou o usurpador Marco Aurélio Sabino Juliano, que havia se proclamado imperador na Panônia.

  • Logo após, enfrentou Diocleciano na Batalha de Margum (atual Sérvia). Apesar de inicialmente obter vantagem, Carino foi assassinado por um de seus próprios oficiais — supostamente por seduzir a esposa deste2.

  • Sua morte encerrou seu reinado e permitiu a consolidação do poder de Diocleciano, que iniciaria a Tetrarquia.

Imagem e Legado

  • 📉 A imagem de Carino foi severamente denegrida por fontes posteriores, especialmente pela “Historia Augusta”, que o retrata como corrupto, devasso e incompetente.

  • 🧾 No entanto, essa visão pode refletir a propaganda de seus sucessores, especialmente de Diocleciano, que tinha interesse em deslegitimar seu antecessor.

  • 🧠 A historiografia moderna, como a proposta por James C. Scott e aplicada por Diogo Pereira da Silva, sugere que o “transcrito público” de Carino revela uma tentativa consciente de construir uma imagem imperial sólida, apesar das críticas.

Conclusão

O reinado de Carino, embora breve, oferece uma janela fascinante para os mecanismos de poder, propaganda e instabilidade do Império Romano no século III. Entre a glória militar e a decadência moral, sua figura permanece envolta em ambiguidade — um reflexo tanto de sua época quanto das narrativas que sobreviveram.