Albert Kesselring: Estratega da Defesa na Itália e Comandante da Luftwaffe

 

Albert Kesselring: Estratega da Defesa na Itália e Comandante da Luftwaffe

Albert Kesselring (1885-1960) foi uma figura central no comando militar alemão durante a Segunda Guerra Mundial, conhecido principalmente por sua liderança da Luftwaffe e, notavelmente, de forças terrestres alemãs na Itália. Sua carreira, que abrangeu ambas as Guerras Mundiais, culminou na patente de Generalfeldmarschall e o estabeleceu como um dos mais condecorados comandantes da Alemanha Nazista. Controverso, admirado e criticado, Kesselring é um tema de estudo fascinante na história militar.

Início da Carreira e Ascensão na Reichswehr e Luftwaffe

Nascido na Baviera em 1885, Albert Kesselring iniciou sua carreira militar no Exército Real Bávaro em 1904 como cadete de artilharia. Serviu com distinção na Primeira Guerra Mundial, tanto na Frente Ocidental quanto na Oriental, onde se destacou como oficial de estado-maior. Apesar de não ter frequentado a Academia de Guerra Bávara, sua capacidade de planejamento e organização foi rapidamente reconhecida.

Após a Grande Guerra, Kesselring permaneceu na Reichswehr, o exército reduzido da República de Weimar. No entanto, em 1933, com a ascensão do Partido Nazista, ele foi um dos arquitetos fundamentais do rearmamento alemão e, crucialmente, da criação da Luftwaffe, a força aérea alemã. Tornou-se chefe do Departamento de Administração do Ministério da Aviação e, posteriormente, Chefe do Estado-Maior da Luftwaffe em 1936. Sua visão era de uma força aérea que atuasse em estreita colaboração com as tropas terrestres, fornecendo apoio tático, em contraste com campanhas de bombardeio estratégico. Essa filosofia moldou a doutrina inicial da Luftwaffe.

Kesselring na Blitzkrieg e na Batalha da Grã-Bretanha

No início da Segunda Guerra Mundial, Kesselring comandou frotas aéreas em campanhas cruciais. Liderou a Luftflotte 1 durante a invasão da Polônia em setembro de 1939, desempenhando um papel vital na estratégia da Blitzkrieg. Em maio-junho de 1940, suas unidades aéreas foram essenciais na Batalha da França e nos Países Baixos, contribuindo para a rápida vitória alemã.

No entanto, o maior teste para a Luftwaffe e para Kesselring veio com a Batalha da Grã-Bretanha (1940-1941). Ele comandou a Luftflotte 2, responsável pelos ataques à Inglaterra, incluindo os bombardeios a Londres. Apesar dos esforços intensos, a Luftwaffe não conseguiu alcançar a superioridade aérea necessária para uma invasão do Reino Unido, um revés significativo para o eixo.

O Comando no Teatro Mediterrâneo e a Campanha da Itália

O ponto de viragem na carreira de Kesselring, e o foco principal de sua fama e notoriedade, foi sua transferência para o Teatro Mediterrâneo. No final de 1941, ele e a Luftflotte 2 foram enviados para a Itália para apoiar o esforço do Eixo no Norte da África e na defesa contra Malta. Kesselring foi nomeado Oberbefehlshaber Süd (Comandante-em-Chefe do Sul), uma posição única que lhe dava comando geral sobre as forças terrestres, navais e aéreas alemãs no Mediterrâneo, incluindo, por um período, as tropas de Erwin Rommel no Norte da África.

Após as invasões Aliadas da Sicília em julho de 1943 e do continente italiano em setembro de 1943, Kesselring assumiu a responsabilidade primária pela defesa da Itália. Contrariando a opinião de outros comandantes, como Rommel (que defendia uma retirada para o norte da Itália), Kesselring acreditava na capacidade de defender a península inteira. Ele orquestrou uma das mais notáveis campanhas defensivas da guerra, transformando a "bota" italiana em um obstáculo quase intransponível para os Aliados.

Sua estratégia defensiva na Itália foi marcada por:

  • Defesa em profundidade: Utilização do terreno montanhoso da Itália para criar múltiplas linhas defensivas, explorando rios e elevações para retardar o avanço Aliado.

  • Linha Gustav e Monte Cassino: A Linha Gustav, com o icônico mosteiro de Monte Cassino, tornou-se o epicentro de batalhas ferozes e prolongadas, custando aos Aliados um preço altíssimo em vidas e tempo. A capacidade de Kesselring de manter essa linha por meses foi um testemunho de sua habilidade tática.

  • Resposta a Anzio: Quando os Aliados tentaram flanquear a Linha Gustav com um desembarque anfíbio em Anzio em janeiro de 1944, Kesselring demonstrou uma notável capacidade de reação. Ele moveu rapidamente reservas para conter a cabeça de praia Aliada, transformando o que deveria ser um avanço rápido em um cerco prolongado e sangrento.

  • Retirada habilidosa: A retirada alemã através da Itália, embora dolorosa, foi realizada com grande perícia, com Kesselring constantemente posicionando suas forças para infligir o máximo de baixas aos Aliados enquanto se retirava para novas posições defensivas, culminando na Linha Gótica no norte da Itália.

Apesar da superioridade Aliada em homens e material, Kesselring conseguiu atrasar significativamente o avanço Aliado por mais de um ano, em uma campanha brutal e de desgaste. Ele foi frequentemente elogiado por seus adversários por sua capacidade de liderança e planejamento.

Crimes de Guerra e Legado

Apesar de suas notáveis habilidades militares, o legado de Albert Kesselring é manchado por sua associação com crimes de guerra. Como comandante-em-chefe na Itália, ele foi considerado responsável por ordens que levaram a atrocidades contra civis italianos, principalmente em retaliação a atividades da resistência. O caso mais notório foi o massacre das Fossas Ardeatinas em março de 1944, onde 335 civis italianos foram executados em resposta a um ataque partisão que matou 33 soldados alemães. Kesselring foi acusado de incitar e ordenar suas tropas a matar civis como parte das represálias.

Após a guerra, Kesselring foi julgado por um tribunal militar britânico em Veneza em 1947 e condenado à morte por sua responsabilidade no massacre das Fossas Ardeatinas e outros crimes. Sua sentença foi posteriormente comutada para prisão perpétua e, em 1952, ele foi libertado por motivos de saúde. Após sua libertação, Kesselring tornou-se ativo em associações de veteranos e contribuiu para a propagação do mito da "Wehrmacht limpa" no pós-guerra, tentando desassociar o exército regular dos crimes nazistas.

Albert Kesselring faleceu em 1960. Sua figura continua a ser objeto de debate, representando a complexidade dos comandantes militares alemães na Segunda Guerra Mundial: estrategista brilhante e defensor tenaz, mas também implicado em atrocidades que mancharam seu registro. Ele foi, sem dúvida, um dos mais eficazes estrategistas defensivos de Hitler, mas sua carreira também serve como um lembrete sombrio das implicações morais e éticas da guerra total.