Religiões Antigas e Sistemas Filosóficos: Crenças e Saberes na Formação das Primeiras Civilizações

 


Religiões Antigas e Sistemas Filosóficos: Crenças e Saberes na Formação das Primeiras Civilizações

As religiões antigas e os primeiros sistemas filosóficos são pilares essenciais para a compreensão das origens do pensamento humano organizado. Ambos surgem como respostas às grandes questões existenciais – a origem da vida, a morte, o cosmos, a ordem natural – e refletem a forma como as primeiras sociedades tentaram interpretar e dar sentido ao mundo que as rodeava.

1. Religiões Antigas: Expressões do Sagrado e do Social

As religiões antigas, desde as práticas xamânicas do Paleolítico até aos complexos panteões das civilizações históricas, tinham um papel central na organização da vida quotidiana. Elas não eram apenas formas de devoção ou crença, mas sistemas integradores que regulavam a moral, a política, o tempo, e as práticas agrícolas.

Nas civilizações da Mesopotâmia, por exemplo, a religião era inseparável da organização estatal. Os deuses eram considerados senhores das cidades – como Marduque em Babilónia ou Assur na Assíria – e os reis governavam com legitimidade divina. O mesmo se observava no Antigo Egito, onde o faraó era visto como um deus vivo, o elo entre o mundo terreno e o mundo dos deuses.

Na Índia antiga, as raízes religiosas do hinduísmo encontram-se nos Vedas, textos sagrados que fundem mitologia, rituais e especulações cosmológicas. Já na China, os cultos aos antepassados e as forças cósmicas (como o Tao) estão na base das práticas espirituais e sociais.

Estas religiões eram, sobretudo, cosmológicas e ritualísticas, com forte componente mítica. A explicação dos fenómenos naturais, como as cheias dos rios ou os eclipses, era atribuída à vontade dos deuses, e os rituais tinham por objetivo manter o equilíbrio entre o mundo humano e o mundo divino.

2. Sistemas Filosóficos: O Nascimento da Razão e da Ética

Enquanto as religiões antigas ofereciam uma visão mítica e ritualizada do mundo, os sistemas filosóficos surgiram como tentativas de compreender a realidade através da razão. Este movimento foi especialmente marcante na Grécia Antiga, mas também se manifestou de forma distinta na Índia e na China.

Na Grécia, a filosofia nasce no século VI a.C. com os chamados pré-socráticos, que procuravam explicações naturais para a origem do universo (cosmologia) sem recorrer à mitologia. Tales de Mileto, Anaximandro ou Heraclito são exemplos de pensadores que lançaram as bases da investigação racional.

Mais tarde, com Sócrates, Platão e Aristóteles, a filosofia desenvolveu-se como uma reflexão sistemática sobre a ética, a política, a metafísica e o conhecimento. A razão passou a ser vista como o instrumento privilegiado para alcançar a verdade, viver virtuosamente e construir uma sociedade justa.

Na Índia, surgiram sistemas filosóficos como o Samkhya, o Yoga e o Vedanta, que articulam meditação, metafísica e ética, dialogando profundamente com o hinduísmo. O budismo e o jainismo, embora de raiz religiosa, apresentam igualmente fundamentos filosóficos sólidos sobre o sofrimento, o desapego e a libertação espiritual.

Na China, o Confucionismo e o Taoismo emergem como sistemas de pensamento com implicações éticas, sociais e metafísicas. Confúcio enfatizou a ordem social, o dever e a educação moral, enquanto Lao-Tsé propôs a harmonia com o Tao – o princípio invisível e espontâneo que rege o universo.

3. Pontos de Contacto e Diferenças

Embora religião e filosofia tenham motivações e métodos distintos – a primeira baseada na fé e no rito, a segunda na razão e na argumentação – muitas vezes coexistiram, influenciaram-se mutuamente ou até se fundiram.

Por exemplo, na Grécia, os mitos continuaram a ter valor cultural mesmo após o surgimento da filosofia. No mundo indiano, a filosofia foi muitas vezes desenvolvida dentro de tradições religiosas. Na China, o pensamento confuciano e taoista não separava religião de filosofia, mas integrava ambos num mesmo tecido ético e espiritual.

4. Legado das Religiões e Filosofias Antigas

O legado das religiões antigas e dos primeiros sistemas filosóficos é vasto. Eles moldaram a forma como pensamos, como organizamos a sociedade e como compreendemos o nosso lugar no cosmos. Muitas das questões centrais que hoje ocupam os filósofos – a justiça, a alma, o conhecimento, o bem – foram formuladas pela primeira vez nestes contextos antigos.

Além disso, o diálogo entre religião e filosofia continua a ser atual, sobretudo nas áreas da ética, da bioética, da política e da ecologia. Entender as suas origens permite-nos não apenas compreender o passado, mas também refletir criticamente sobre o presente.