Nut: A Deusa Egípcia do Céu Estrelado

 

Nut: A Deusa que Abraça o Céu e o Mistério da Eternidade

No vasto panteão da antiga civilização egípcia, onde deuses e deusas moldavam o destino do cosmos e dos homens, uma figura se destaca por sua beleza estelar e seu papel essencial na ordem do universo: Nut, a deusa do céu. Mais do que uma simples divindade celeste, Nut é o próprio firmamento — a abóbada estrelada que envolve o mundo e guarda os segredos da criação, da morte e do renascimento.

A Mãe Celestial da Criação

Nut pertence à Enéade de Heliópolis, o grupo de nove divindades primordiais que compõem a cosmogonia heliopolitana. Filha de Shu (o ar) e Tefnut (a umidade), ela é irmã e esposa de Geb, o deus da terra. Dessa união nasceram quatro dos deuses mais venerados do Egito: Osíris, Ísis, Set e Néftis — pilares do drama mítico egípcio.

Visualmente, Nut é frequentemente representada como uma mulher nua, arqueada sobre a terra, com o corpo salpicado de estrelas. Essa imagem poderosa não é apenas estética: ela simboliza o céu noturno, o véu protetor que cobre o mundo. Em muitas representações, Nut engole o sol ao anoitecer e o dá à luz novamente ao amanhecer — um ciclo eterno que traduz a crença egípcia na regeneração e na continuidade da vida.

Guardiã do Sol e do Equilíbrio Cósmico

Nut não é apenas o céu visível. Ela é a fronteira entre o mundo ordenado e o caos primordial. Sua posição arqueada, sustentada por seu pai Shu, impede que as águas do Nun — o oceano cósmico do nada — invadam a terra. É ela quem mantém o equilíbrio do universo.

Mas seu papel vai além da física celeste. Nut é a mãe do deus-sol Rá, que viaja por seu corpo durante o dia e é engolido por ela à noite, apenas para renascer no dia seguinte. Esse ciclo solar é um dos mitos mais poderosos do Egito Antigo, refletindo a esperança de renascimento não apenas do sol, mas também da alma humana.

Senhora da Morte e do Renascimento

Na religião egípcia, a morte não era um fim, mas uma transição. E Nut era a guardiã dessa passagem. Acreditava-se que os mortos entravam em seu corpo e eram renascidos no além. Por isso, sua imagem é onipresente nos tetos das tumbas e nos caixões, onde ela aparece com os braços estendidos, acolhendo o falecido em seu abraço estelar.

Ser “com Nut” ou “sob Nut” era o desejo de muitos egípcios ao morrer. Ela era a promessa de proteção e renascimento — uma mãe cósmica que guiava as almas na escuridão até a luz da eternidade.

Símbolos e Culto

Embora Nut não tivesse templos dedicados exclusivamente a ela, sua presença era constante na vida religiosa egípcia. Ela era invocada em hinos, orações e rituais funerários. As estrelas em seu corpo representavam a ordem divina, enquanto sua nudez simbolizava pureza e fertilidade cósmica. Em algumas tradições, ela também era associada à serpente, símbolo de renovação e proteção.

Sua imagem nos sarcófagos não era apenas decorativa — era um amuleto visual, uma promessa de que o falecido seria acolhido, protegido e renascido sob seu manto estrelado.

Um Céu que Nunca se Apaga

Nut é mais do que uma deusa: ela é o próprio céu, a mãe do sol, a guardiã dos mortos e a encarnação do ciclo eterno da vida. Sua figura arqueada sobre o mundo é um lembrete visual da ordem cósmica e da esperança de renascimento. Em cada estrela que brilha em seu corpo, os antigos egípcios viam não apenas luz, mas promessa.

Hoje, milênios depois, Nut continua a nos fascinar — não apenas como personagem mitológica, mas como símbolo de uma visão de mundo em que tudo está conectado: o céu e a terra, a vida e a morte, o ontem e o amanhã.


 Por Albino Monteiro