Necbete: A Deusa Abutre Protetora do Alto Egito

 



Necbete: A Deusa Abutre Protetora do Alto Egito

Introdução

A mitologia egípcia é um universo simbólico riquíssimo, povoado por divindades que representavam forças da natureza, aspectos da vida cotidiana e princípios espirituais. Entre essas divindades, destaca-se Necbete, a deusa abutre, protetora do Alto Egito e guardiã da realeza. Esta monografia tem como objetivo explorar a origem, os atributos, o culto e a importância simbólica de Necbete no contexto religioso e político do Antigo Egito.

1. Origem e Iconografia

Necbete era adorada originalmente na cidade de Nequebe (El Kab), no Alto Egito. Seu nome significa “aquela que é de Nekheb”. Representada como um abutre branco com asas abertas, ou como uma mulher com a coroa branca do Alto Egito, ela segurava frequentemente o símbolo Shen, que representa a eternidade e a proteção.

A escolha do abutre como símbolo não era aleatória: na cultura egípcia, o abutre era visto como um animal materno e protetor, que cuidava de seus filhotes com zelo. Essa imagem reforçava o papel de Necbete como mãe simbólica do faraó e guardiã da nação.

2. Funções e Atributos

Necbete era considerada a deusa tutelar do Alto Egito, e sua importância cresceu com a unificação do Egito, quando passou a ser representada ao lado de Uadjit, a deusa cobra do Baixo Egito. Juntas, eram conhecidas como as “Duas Senhoras”, símbolo da união das duas terras.

Além de protetora do faraó, Necbete era associada à maternidade, à proteção das crianças e à vida após a morte. Ela aparecia em amuletos, colares e objetos sagrados usados para invocar sua proteção. Em cerimônias reais, era comum vê-la com as asas estendidas sobre o rei, simbolizando sua bênção e autoridade divina.

3. Culto e Representações

O principal centro de culto de Necbete era o Templo de El Kab, onde sacerdotisas chamadas de “mães” conduziam rituais em sua honra. Festivais, oferendas e procissões eram realizados para celebrar sua presença protetora.

Na arte egípcia, Necbete aparece em relevos, pinturas e esculturas, muitas vezes ao lado de Uadjit, coroando o faraó ou protegendo cenas de julgamento no além-túmulo. Sua imagem também era comum em tumbas e templos, como no templo de Hatshepsut e no de Ramsés III.

4. Legado e Influência Cultural

O culto a Necbete perdurou até o período greco-romano, e sua imagem continua a inspirar artistas, escritores e estudiosos da egiptologia. Embora menos conhecida na cultura popular moderna do que Ísis ou Anúbis, Necbete permanece uma figura central na compreensão da espiritualidade egípcia e da simbologia do poder real.

Conclusão

Necbete representa a fusão entre o poder espiritual e a autoridade política no Egito Antigo. Como deusa abutre, ela simboliza proteção, maternidade e soberania. Sua presença constante na iconografia real e religiosa revela a profundidade com que os egípcios valorizavam a proteção divina como fundamento do governo e da ordem cósmica. Estudar Necbete é compreender uma das raízes mais antigas da religiosidade egípcia e sua visão integrada do mundo.